São Paulo, domingo, 31 de outubro de 2010

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Criança é avaliada por até 5 h para ter vaga em escola

Colégios mais disputados observam interação e participação em atividades

Prática, considerada uma evolução em relação aos antigos vestibulinhos, ainda causa muita polêmica

Silvia Zamboni/Folhapress
Heloísa Gonçalves e o filho Pedro, que fará vivência no Vértice

PATRÍCIA GOMES
LETÍCIA DE CASTRO

DE SÃO PAULO

Crianças a partir dos cinco anos precisam passar por avaliações que duram de duas a cinco horas para conseguir vaga no ensino fundamental dos colégios mais disputados de São Paulo e Rio.
É o dia de vivência, em que o aluno assiste à aula, interage com outras crianças, participa de atividades, conversa com professores, pedagogos e psicólogos -e é observado.
O método vem sendo aprimorado desde que os vestibulinhos, provas formais de seleção, foram condenados pelo Conselho Nacional de Educação em 2003 para acesso a qualquer série do ensino fundamental. Como um parecer, o documento não tem valor de lei e cada escola decide como fazer sua seleção.
Dia de vivência e dinâmica de grupo são usados em colégios como São Luís, Lourenço Castanho e Vértice, de São Paulo, e Andrews, do Rio.
Aliado a critérios como ordem de chegada, vínculo da família com a escola, entrevista com pais e testes de sondagem, o dia de avaliação das crianças também faz parte dos processos de aceitação e acolhida de novos alunos.
"Precisamos ver se o aluno tem interesse em estudar na escola, se o perfil dele tem a ver com o nosso", diz Adilson Garcia, diretor do Vértice, de São Paulo, que diz usar o método há pelo menos 15 anos.
Quando o resultado é positivo, tudo bem. Mas e quando é negativo? "Dizemos que, no momento, o aluno ainda não tem o perfil adequado para estudar conosco", diz.
Às famílias que se interessam a escola apresenta um boletim de desempenho da criança, incluindo as não aceitas, apontando aspectos que podem ser trabalhados.
O filho de Heloísa Helena Gonçalves, que está na lista de espera do Vértice há três anos, fará a vivência em novembro. "Encaro o dia como um quebra-gelo. Vamos tentar fazer o Pedro ver tudo como uma brincadeira", diz.
Para a coordenadora do curso de psicopedagogia da PUC-SP, Neide Noffs, o processo seletivo gera um grau de ansiedade inadequado para crianças pequenas.
"A criança deve ser poupada ao máximo do contato [com a escola], para não criar nenhum tipo de vínculo. Colocar a criança em uma situação de frustração não favorece seu desenvolvimento."
Já a presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia, Quézia Bombonatto, discorda. A especialista destaca que a vivência permite à escola avaliar mais as habilidades sociais da criança, e não apenas o conteúdo.
"São ferramentas importantes para avaliar a capacidade de adaptação", afirma.


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