São Paulo, domingo, 31 de outubro de 2010 |
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ANÁLISE SELEÇÕES NO ENSINO FUNDAMENTAL Critérios pedagógicos ou extraeducacionais? Já que discriminação é inevitável, pois há mais candidatos que vaga, é necessário discutir a questão abertamente
HÉLIO SCHWARTSMAN ARTICULISTA DA FOLHA O problema é físico. Se uma escola tem mais candidatos a alunos do que vagas, precisa de uma fórmula para discriminar quem vai ser recusado. Vale para faculdades e jardim da infância. Sim, a aritmética -como a natureza- pode ser cruel, mas revoltar-se contra ela não altera a realidade dos números. Aceita a ideia de que alguns terão suas expectativas frustradas, é preciso discutir quais critérios da escolha. O elenco teórico de possibilidades é grande. Inclui desde sorteio até leilão, passando por avaliações pedagógicas. Aqui as coisas podem ficar confusas. Nas séries mais elevadas, testes que medem o conhecimento do candidato costumam ser bem vistos -é a materialização do ideal republicano da meritocracia. Quando se trata de crianças pequenas, no entanto, o consenso desaparece. Alguns consideram inadequado submetê-las ao estresse de uma prova e ao trauma de uma eventual rejeição. Foi com base nessa percepção, que está muito mais em nossas intuições do que na lei, que o Ministério Público promove desde 2005 uma campanha contra as escolas que faziam "vestibulinhos". Como as ações de procuradores ainda não revogam as leis da matemática, a seleção continua ocorrendo, mas através de critérios não educacionais. O Colégio Santa Cruz, por exemplo, um dos que foram processados em 2005, abandonou as provinhas, mas se tornou uma escola dinástica, à qual têm acesso apenas filhos de ex-alunos e irmãos de alunos. Outros optaram por sorteios, ordem de inscrição e dias de vivência, que são uma forma de fazer a apreciação pedagógica sem ferir tanto as suscetibilidades de quem acredita que criança pequena deve ser poupada. Seria mais produtivo discutir a questão abertamente: dado que a discriminação é inevitável, é melhor usar critérios pedagógicos ou princípios extraeducacionais? Texto Anterior: Criança é avaliada por até 5 h para ter vaga em escola Próximo Texto: Em escola do Rio, criança de cinco anos já é "candidata" Índice | Comunicar Erros |
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