São Paulo, terça-feira, 31 de dezembro de 2002

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MORTE DA MODELO

Promotoria quer conhecer vínculos entre assessores de Itamar e ministro de Lula com Cristiana Ferreira

Investigação não poupa políticos de Minas

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
LEONARDO WERNER
FREE-LANCE PARA A AGÊNCIA FOLHA

A investigação da morte da modelo Cristiana Aparecida Ferreira, ocorrida em agosto de 2000 em Belo Horizonte, é um caso único no meio policial que envolve o staff político mineiro que agora ganha contornos republicanos com o envolvimento de políticos que vão assumir cargos ou são cotados para o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
É o caso do deputado federal Walfrido dos Mares Guia (PTB), ex-vice-governador de Minas e futuro ministro do Turismo, que depôs ontem no Ministério Público mineiro.
Além dele, Djalma Morais, atual presidente da Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais) e cotado para presidir Furnas Centrais Elétricas, está também citado no inquérito, já tendo sido ouvido pelos promotores.
Apesar de citados, o Ministério Público tem tido cuidado ao falar das personalidades envolvidas no caso. Os promotores afirmam que a citação delas não significa implicações com a morte da modelo. Elas estão sendo intimadas a depor com o propósito de ajudar nas investigações. Acham que podem ter informações úteis.
A misteriosa morte da modelo de 24 anos trouxe à tona as relações próximas da moça com o poder, com os frequentadores do Palácio da Liberdade, a sede do governo de Minas Gerais, em pelo menos duas gestões.
São citados ainda no inquérito o vice-governador Newton Cardoso (PMDB) e o secretário de Governo e Assuntos Municipais, Henrique Hargreaves. Este foi interrogado na última sexta-feira, por mais de três horas.
O governador Itamar Franco (PMDB) não está citado, mas já posou para fotos ao lado de Cristiana. Foi no dia 3 de fevereiro de 2000, durante visita que a modelo fez à sede do Executivo mineiro.
O secretário estadual de Comunicação, Luiz Márcio Vianna, disse que não saberia informar quem organizou a visita, porque na época não era assessor do governo.
O advogado da família de Cristiana, Rui Caldas Pimenta, apresentou requerimento, negado pelo Ministério Público, solicitando esclarecimentos do governador sobre o fato de a moça "ter acesso pela porta de honra" do palácio.
"O promotor disse que eu estava fazendo sensacionalismo. Só queria saber como ela tinha toda aquela intimidade", disse ele. Na agenda do telefone celular de Cristiana existem 118 telefones anotados -68 eram de políticos e empresários.
No depoimento de Hargreaves, de acordo com o Ministério Público, e na recente entrevista que o futuro ministro Mares Guia concedeu sobre o caso, ambos disseram que teriam sido interpelados por Cristiana, que queria emprego ou colocação melhor para os irmãos em empresas ou órgãos públicos. Aos promotores, Djalma disse que recebeu a moça em seu gabinete na Cemig porque ela foi indicada por Hargreaves.

Modelo
A família de Cristiana -cujo pai, Antônio Viçoso Ferreira, 67, é técnico aposentado da Cemig- refuta insinuações de que a modelo seria garota de programa. Segundo seu advogado, Cristiana tinha "bom relacionamento" com as mais diversas personalidades e "prestava serviços" a elas.
Embora a morte da moça tenha ocorrido em um flat de Belo Horizonte, provavelmente no dia 4 de agosto de 2000 -o corpo foi encontrado no dia 6-, o caso só ganhou as páginas dos jornais e chegou às rádios e às emissoras de TV em novembro passado.
Foi quando sete promotores, a pedido da família, contestaram o inquérito policial que apontou como causa da morte suicídio por envenenamento. O inquérito foi concluído em maio deste ano.
A polícia mantém desde o início a sua versão. O Ministério Público suspeita de assassinato e que pode ter havido pressões durante a condução do inquérito. Cristiana falou com políticos, por telefone, no dia da sua morte. Há registros de ligações para órgãos do governo e residências de autoridades. Os nomes estão sob sigilo.
A Promotoria aponta contradições e dúvidas nas investigações policiais. Uma das principais é se havia alguém com a modelo no dia de sua morte. Para a polícia só ela estava no apartamento.
"Havia duas pessoas ali", afirma o promotor Francisco de Assis Santiago, que preside o inquérito do Ministério Público.


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