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MORTE DA MODELO
Promotoria quer conhecer vínculos entre assessores de Itamar e ministro de Lula com Cristiana Ferreira
Investigação não poupa políticos de Minas
PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
LEONARDO WERNER
FREE-LANCE PARA A AGÊNCIA FOLHA
A investigação da morte da modelo Cristiana Aparecida Ferreira,
ocorrida em agosto de 2000 em
Belo Horizonte, é um caso único
no meio policial que envolve o
staff político mineiro que agora
ganha contornos republicanos
com o envolvimento de políticos
que vão assumir cargos ou são cotados para o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
É o caso do deputado federal
Walfrido dos Mares Guia (PTB),
ex-vice-governador de Minas e
futuro ministro do Turismo, que
depôs ontem no Ministério Público mineiro.
Além dele, Djalma Morais, atual
presidente da Cemig (Companhia
Energética de Minas Gerais) e cotado para presidir Furnas Centrais Elétricas, está também citado
no inquérito, já tendo sido ouvido
pelos promotores.
Apesar de citados, o Ministério
Público tem tido cuidado ao falar
das personalidades envolvidas no
caso. Os promotores afirmam que
a citação delas não significa implicações com a morte da modelo.
Elas estão sendo intimadas a depor com o propósito de ajudar
nas investigações. Acham que podem ter informações úteis.
A misteriosa morte da modelo
de 24 anos trouxe à tona as relações próximas da moça com o poder, com os frequentadores do
Palácio da Liberdade, a sede do
governo de Minas Gerais, em pelo
menos duas gestões.
São citados ainda no inquérito o
vice-governador Newton Cardoso (PMDB) e o secretário de Governo e Assuntos Municipais,
Henrique Hargreaves. Este foi interrogado na última sexta-feira,
por mais de três horas.
O governador Itamar Franco
(PMDB) não está citado, mas já
posou para fotos ao lado de Cristiana. Foi no dia 3 de fevereiro de
2000, durante visita que a modelo
fez à sede do Executivo mineiro.
O secretário estadual de Comunicação, Luiz Márcio Vianna, disse que não saberia informar quem
organizou a visita, porque na época não era assessor do governo.
O advogado da família de Cristiana, Rui Caldas Pimenta, apresentou requerimento, negado pelo Ministério Público, solicitando
esclarecimentos do governador
sobre o fato de a moça "ter acesso
pela porta de honra" do palácio.
"O promotor disse que eu estava fazendo sensacionalismo. Só
queria saber como ela tinha toda
aquela intimidade", disse ele. Na
agenda do telefone celular de
Cristiana existem 118 telefones
anotados -68 eram de políticos e
empresários.
No depoimento de Hargreaves,
de acordo com o Ministério Público, e na recente entrevista que o
futuro ministro Mares Guia concedeu sobre o caso, ambos disseram que teriam sido interpelados
por Cristiana, que queria emprego ou colocação melhor para os
irmãos em empresas ou órgãos
públicos. Aos promotores, Djalma disse que recebeu a moça em
seu gabinete na Cemig porque ela
foi indicada por Hargreaves.
Modelo
A família de Cristiana -cujo
pai, Antônio Viçoso Ferreira, 67, é
técnico aposentado da Cemig-
refuta insinuações de que a modelo seria garota de programa. Segundo seu advogado, Cristiana tinha "bom relacionamento" com
as mais diversas personalidades e
"prestava serviços" a elas.
Embora a morte da moça tenha
ocorrido em um flat de Belo Horizonte, provavelmente no dia 4 de
agosto de 2000 -o corpo foi encontrado no dia 6-, o caso só ganhou as páginas dos jornais e chegou às rádios e às emissoras de TV
em novembro passado.
Foi quando sete promotores, a
pedido da família, contestaram o
inquérito policial que apontou
como causa da morte suicídio por
envenenamento. O inquérito foi
concluído em maio deste ano.
A polícia mantém desde o início
a sua versão. O Ministério Público
suspeita de assassinato e que pode
ter havido pressões durante a
condução do inquérito. Cristiana
falou com políticos, por telefone,
no dia da sua morte. Há registros
de ligações para órgãos do governo e residências de autoridades.
Os nomes estão sob sigilo.
A Promotoria aponta contradições e dúvidas nas investigações
policiais. Uma das principais é se
havia alguém com a modelo no
dia de sua morte. Para a polícia só
ela estava no apartamento.
"Havia duas pessoas ali", afirma
o promotor Francisco de Assis
Santiago, que preside o inquérito
do Ministério Público.
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