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São Paulo, quarta-feira, 31 de dezembro de 2003

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URBANIDADE

Feliz São Paulo novo

GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA

Caros leitores , desculpem-me pelo narcisismo. Mas hoje, para falar de São Paulo, o personagem escolhido sou eu mesmo. Pelo menos, estou protegido do ridículo exibicionista graças à clandestinidade de quem se vê obrigado a publicar qualquer coisa no último dia inútil do ano, quando todos os leitores conseguem fazer muitas coisas, menos ser leitores.
A escolha do personagem não é tão gratuita assim -talvez pudesse até dizer que o personagem não sou eu, mas Nova York, onde estou neste momento. Nesta mesma data, há seis anos, estava metido no inverno nova-iorquino, de céu azul e ensolarado, preparando-me para voltar a São Paulo, o que era, na opinião de muitos de meus amigos e colegas, sair do paraíso para o inferno.
Nesse caminho de volta, começou a nascer esta coluna, "Urbanidade". Nasceu parida pela lição que aprendi caminhando pelas ruas de Manhattan: a riqueza de uma cidade não está nas belezas naturais, mas na quantidade de pessoas interessantes fazendo coisas interessantes, compondo paisagens de incessantes inovações. Essa foi a energia que me fez virar um aprendiz de Nova York e, depois, um aprendiz de São Paulo.
Quem estiver aberto para a cidade que, no mês que se inicia amanhã, comemora 450 anos não vai ver apenas o trânsito, as enchentes, a violência, a poluição, enfim, o inferno urbano -vai ver e sentir a energia criadora e instigante das pessoas. Esse olhar nos permite descobrir as ilhas no inferno, com suas redes de solidariedade e de gentileza, respostas à nossa sensação de abandono e solidão.
Desde que comecei a escrever esta coluna, tempos depois da minha chegada a São Paulo, não me faltaram personagens interessantes, muitos dos quais anônimos, sem título, que, no entanto, estavam fazendo coisas interessantes, coisas aparentemente ínfimas, mas gigantes em significado. Quanto mais anônimo o personagem, aliás, mais interessante. Esses gestos gigantes em coisas ínfimas, espalhados anonimamente pela cidade, formam uma massa energética, criativa. Por isso passei a acreditar que São Paulo vai conseguir se transformar num espaço mais acolhedor.
Até porque só existem dois caminhos: ou a cidade expulsa os paulistanos, ou os paulistanos mudam a cidade. Nessas horas, prefiro confiar em Einstein, para quem é melhor errar sendo otimista do que acertar sendo pessimista.



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