São Paulo, domingo, 07 de outubro de 2007

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Alberto César Araújo / Folha Imagem
Maria Zenilda, 40 com os filhos e o marido Carlos Alberto, 45
AMAZONAS - Maria Zenilda, 40 com os filhos e o marido Carlos Alberto, 45


Kátia Brasil

O medo da galera

Para os pais, família, educação e religião ajudam a afastar os filhos das gangues violentas

O envolvimento dos adolescentes com as chamadas “galeras” –grupos que delimitam territórios, cobram pedágio de moradores de bairros pobres e disputam pontos do tráfico de drogas– é o temor da maioria das famílias que habitam a periferia de Manaus (AM).
Moradora do bairro da Compensa 2, na zona oeste da cidade, a família do casal Maria Zenilba, 40, e Carlos Alberto da Silva, 45, já conhece o sofrimento de ter um filho nas galeras.
Zenilba tem quatro filhos do primeiro casamento –Fábio, 23, Carla, 20, Marcos, 14, e Caio, 12– e mais dois do segundo casamento com Carlos Alberto: Carlos, 8, e Ana Vitória, um ano e seis meses.
Fábio se envolveu com as galeras durante a adolescência. “Cheguei ao ponto de entregar a vida dele a Deus”, afirma Zenilba. Hoje o rapaz trabalha, é casado e tem dois filhos. A mãe diz ter encontrado na luta para tirar o filho das drogas o exemplo para criar os outros: ser mais presente na educação da família.
Empregada doméstica, Zenilba sai de casa às 6h para trabalhar, de segunda a sábado, e retorna às 18h. Carlos Alberto Silva trabalha numa fábrica da Zona Franca de Manaus das 13h às 23h. Os meninos que moram com o casal –Marcelo, Caio, Carlos e Ana Vitória– estudam pela manhã e à tarde. Quando a mãe sai para trabalhar, o pai faz o almoço e cuida da casa. Nas casas vizinhas à de Zenilba moram mais sete irmãs dela, que auxiliam no cuidado com o bebê.
“Nós criamos três filhos homens num bairro em que os traficantes aliciam meninos com oito, 12, 14 anos. Quando o Carlos Alberto sai, nossos filhos ficam muito vulneráveis. Eu ligo de cinco a dez vezes durante o dia para saber como estão e o que estão fazendo. A violência é muito grande”, afirmou Zenilba.
O fenômeno das galeras é registrado na capital amazonense desde os anos 90. Chamados de galerosos, os adolescentes fazem confrontos com grupos rivais e chegam a matar inimigos com facões, cacos de vidro ou a tiros. As galeras cobram pedágio para a circulação de moradores de bairros de periferia e fazem arrastões em pontos de ônibus e festas.
Carlos Alberto afirma que mudou o horário de trabalho para ficar mais presente em casa e orientar os meninos sobre os cuidados com as galeras e o tráfico de drogas. Ele afirma que o envolvimento da família com a religião –eles são evangélicos– também ajuda nos diálogos. “Eu falo para eles que as galeras e o tráfico não são o caminho. Aqui [na localidade na qual moram] morre um por semana”, afirma. Na casa do casal, o lazer dos meninos é jogar bola, soltar pipa na laje e jogar videogame. Aos domingos todos se reúnem na igreja evangélica. “A família é muito importante, sim, mas cada filho tem que se conscientizar dos perigos da violência, senão eles vão [se envolver] de qualquer jeito”, afirma Carlos Alberto. ´

Moral mais-de-20

O que vale para o brasileiro em geral não vale para os que vivem renda superior a 20 salários mínimos mensais, é o que se conclui avaliando as respostas sobre questões morais. Começa na pergunta sobre mentir ao declarar o Imposto de Renda. Enquanto, na média, 66% consideram a atitude “moralmente errada”, na turma dos mais de 20 –que o leão também tende a morder com mais força– o índice é de 46%. Para 29%, a mentira nesse caso nem é uma questão moral. Nessa parcela de renda, o comportamento homossexual é aceito por 31%, enquanto a média estaciona em 21%. No aborto, o índice de 87% de “moralmente errado” para 87% cai a 69% para os que ganham mais de R$ 7.600.
Entre os que ganham mais de 20 salários mínimos mensais, cai para 50% os que consideram muito grave fumar maconha
A diferença de 20 pontos se mantém na questão das drogas. Na média, 87% consideram fumar maconha “moralmente errado”. Entre os mais-de-20, 67%. Beber excessivamente? Na média, 79%, contra 54% dos mais ricos. Já entre os que ganham até dez salários mínimos, a reprovação à bebedeira alcança 80%, um abismo de 26 pontos em relação à classe mais alta.
São também os mais ricos que preferem mentir a magoar os sentimentos alheios: 40% aceitam a prática, contra 22% na faixa de ganhos médios e 18% entre os menos-de-dez
(Alexandra Moraes)


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