Índice geral Cotidiano
Cotidiano
Texto Anterior | Índice | Comunicar Erros

Associação quer brecar 'muvuca' de artistas nas ruas

Articuladores de artistas de rua e comerciantes do centro querem ajustar projeto de lei em discussão

Em uma quadra da rua 15 de novembro, quatro artistas se apresentam e dizem que nunca recebem reclamações

CRISTINA MORENO DE CASTRO
DE SÃO PAULO

É começo da tarde na praça da Sé. A banda de forró Luar do Sertão Pancadão do Piauí se prepara para tocar mais uma vez o clássico "Asa Branca", de Luiz Gonzaga.

Zabumba, pandeiro, sanfona. Microfones, amplificador e caixa de som.

"Eu até gostava da música, mas imagina o que é ouvir Asa Branca 45 vezes no mesmo dia?", diz o advogado Airton Domingues, que é diretor da Ação Local Praça da Sé.

Ele trabalha no sexto andar de um prédio da praça e diz que sofre com o eco das caixas de som usadas por alguns artistas de rua. "Não dá para trabalhar."

O problema, diz, é que já aumentou o número de artistas de rua -ou dos munidos de caixas de som altíssimas- desde que Gilberto Kassab (PSD) aprovou, em julho, o decreto que disciplina as apresentações.

Mas o temor de moradores e comerciantes é que vire bagunça quando um projeto de lei em tramitação for aprovado: da forma como está escrito, permite que mais pessoas sejam consideradas artistas e autoriza até a venda de "peças artesanais".

"Daqui a pouco qualquer um diz que é artista e vai para a rua, e vira um camelódromo disfarçado", diz Artur Monteiro, da Ação Local Ladeira da Memória, ligada à Associação Viva o Centro.

A associação, que tem 5.000 membros, criou um grupo de trabalho em dezembro para discutir o assunto e diz que procura a prefeitura e a Câmara ativamente.

Ao mesmo tempo, articuladores do movimento dos artistas de rua criaram um fórum na internet para melhorar o texto do PL -incluindo regras como limite para ruído, ocupação e para que os artistas não fiquem sempre no mesmo lugar.

"O texto foi feito às pressas, estamos trabalhando para melhorá-lo", diz Celso Reeks, um dos articuladores, que defende a venda dos CDs autorais pelos artistas, hoje proibida, para que consigam levantar mais dinheiro.

QUATRO EM UMA QUADRA

Na semana passada, a Folha convidou Celso e Airton para circular pelo centro, onde a concentração de artistas (e de público) é maior.

Descendo pela rua 15 de Novembro, vê-se a dupla de repentistas Peneira e Sonhador fazendo rimas para uma roda imensa de pessoas. Alguns passos adiante, um mágico transforma um pedaço de jornal em nota de R$ 50.

A dupla de cantores de gospel Os Levitas da Última Hora também canta com caixa de som (desde que o decreto foi aprovado) e vende CDs quando não há fiscais perto.

Também é comum encontrar por ali o pintor de grão-de-arroz, o de azulejos, o que faz arte em arames e o que se apresenta com argolas.

Embora o debate na internet e fora dela esteja quente, a posição de Celso e Airton é a mesma: querem apenas coibir os abusos, sem impedir o trabalho dos artistas.

Luiz Ramalho da Silva, 35, o sanfoneiro da banda de forró, diz que toca há 15 anos na praça e que nunca recebeu reclamações de moradores ou comerciantes por seu som.

"Daqui eu não saio." Nem teria como: segundo ele, todas as praças próximas já estão ocupadas.

Veja fotos dos artistas de rua na Sé:

folha.com.br/fg5874

Veja vídeo com os artistas de rua e os comerciantes:

folha.com/no1028091

Texto Anterior | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.