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Minha História - Michael Cerqueira de Oliveira, 17

Aprovado!

Quando soube que sua nota tinha aumentado, o estudante pensou: "Yes! Poderei lutar por uma vaga na UFRJ". Mas ele ainda não teve acesso à prova, como mandou a Justiça

THAIS BILENKY
DE SÃO PAULO

RESUMO Bolsista de escola particular em São Paulo foi o primeiro estudante a conseguir na Justiça revisão de nota desde que o Enem adotou novo formato, em 2009. Sua redação foi de anulada para 880 pontos, em escala até mil. Depois de estudar seis dias por semana o ano todo, "ficou sem chão" com o resultado até resolver descobrir o que aconteceu.

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Sou muito supersticioso. Não passo debaixo da escada, essas coisas. Mas no dia da prova não fiz nada. Saí de casa, peguei um ônibus e fui.

Estava confiante, a escola [Lourenço Castanho, na Vila Nova Conceição, em SP] preparou bem. Era uma prova importante, o primeiro vestibular que eu estava fazendo. Gosto muito do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), é justo, não fica cobrando detalhe do detalhe, sabe?

Achei o tema da redação legal. Era a relação do público e do privado na internet. Falei de quando a polícia em Londres prendeu pessoas que mandaram mensagens pelo BlackBerry [para organizar protestos]. Interpretei que isso era ilegal, porque assim como no mundo offline, você precisa estar legalmente munido para invadir a privacidade de uma pessoa [na internet]. Gostei de como desenvolvi o tema.

Até que em dezembro saiu a surpresa, que foi a anulação da minha redação. Me deixou superbravo, porque era uma coisa com que eu contava, né? Fiquei sem chão. E o pior foi a justificativa do gabarito, que era o uso de impropérios ou desenhos com intenção de anular. Só podia estar errado.

O Alexandre [Abbatepaulo], diretor da escola, pediu documentos que provavam que sou bom aluno. Entraram com uma ação na Justiça para ter acesso à prova. O juiz decidiu favoravelmente.

Uns dias depois, uma funcionária da Universidade de Brasília me ligou e disse que a nota tinha sido alterada. Perguntei qual tinha sido o erro, mas ela não sabia. Entrei no site e verifiquei que a nota tinha passado para 880. Fiquei superfeliz. Pensei: "Yes! Poderei lutar por uma vaga na UFRJ [Universidade Federal do Rio de Janeiro]".

Foi engraçado acontecer isso comigo. Porque a gente faz muitos debates na escola e eu sempre defendo o Enem. Mas nem por isso mudei de opinião. Só precisa ser aprimorado. Esses erros acabam tirando a credibilidade.

Antes do colegial, eu estudava na escola estadual Miguel Munhoz Filho, no Jardim Capelinha. Eu moro no Jardim das Rosas, Campo Limpo. Só entrei no Lourenço por causa do Ismart, que é uma organização fantástica que oferece bolsas em vários colégios. Mudou minha vida. Lá eu consigo estudar melhor.

Se não tivesse o apoio do Lourenço, não teria entrado na Justiça. Precisaria acionar a Defensoria Pública e demoraria bastante.

Sempre gostei de ler. Quando eu era menor, ia na biblioteca e pegava um livro por semana. Os livros da Fuvest têm uma carga de obrigação. Mas você descobre que a literatura tem um lado muito maior, mais bonito. Tirando "Iracema" [de José de Alencar].

Durante esse ano todo, fiz um grupo de estudos aos sábados com meus amigos do Miguel Munhoz. De certa forma, eu era o tutor, mas todos tinham direito de falar.

Vou fazer 18 anos no dia 15. Tô muito feliz, porque vou poder sair à vontade, ir em balada. No domingo [hoje], presto a Fuvest. Vou calmo, vou dar o meu melhor e espero que seja suficiente para conseguir uma vaga. Claro que dá aquele frio na barriga.

Quero fazer economia e trabalhar no serviço público. Gosto de planejamento, de discutir os problemas da sociedade. O principal é o transporte público. Quando eu era menor, inventava linhas de ônibus. Quando comecei a usar é que vi o quão ruim é.

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