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Crise nos EUA faz brasileiro voltar a MG

Moradores de Governador Valadares retornam ao país, mas a maioria deles não poupou quantia que desejava

Cidade, que já teve apelido de Valadólares, abriga hoje gente que se frustrou com a falta de oportunidades nos EUA

RODRIGO VIZEU
ENVIADO ESPECIAL A GOVERNADOR VALADARES E SARDOÁ (MG)

"A vida na América foi só tropeço. Você tenta persistir, mas chega uma hora que é 'game over'. Se ficasse, neste inverno ia passar fome", diz Gilberto Reis, 31, que voltou dos EUA para Governador Valadares (MG) há dois meses.

Mais um entre os ex-emigrantes brasileiros ilegais que retornaram ao país após a crise econômica dos EUA, Reis voltou sem nenhuma economia e está desempregado.

Mora com a mulher em um quarto da casa dos pais.

Ele trabalhou dez anos como pedreiro na região de Boston (Massachusetts) com a ideia de juntar dinheiro para melhorar de vida no Brasil.

Para Reis, os amigos que ficaram aqui estão em situação melhor. Ele diz que hoje só insiste no sonho americano quem "olha no retrovisor".

São os que acreditam, afirma, poder repetir o sucesso dos que emigraram nos anos 1980 e 1990, ou mesmo no início dos anos 2000, antes da crise econômica.

Era a época em que a cidade mineira, epicentro da emigração ilegal brasileira, era chamada de "Valadólares".

A reportagem esteve na região na semana passada e ouviu dezenas de relatos de quem chegou agora sem conseguir "fazer a América".

De volta há seis meses, Romário Rabelo, 28, chama de "gente louca" quem emigra hoje. Ele conta que, antes da primeira crise, em 2008, mandava até US$ 1.600 mensais para a construção de sua casa em Valadares, recebidos como pagamento por trabalhos em restaurantes e obras.

"Na crise, eu não juntava nem para um tênis. Às vezes, tinha que tirar do guardado para pagar as contas", diz.

Hoje, ele tem uma fábrica de móveis modulados com o pai e ganha mais do que nos últimos anos de EUA.

Rabelo envia mensalmente dinheiro para a mulher e para a filha, que ficaram em Newark (Nova Jersey). Viúva de americano, a mulher precisa ficar nos EUA enquanto espera cidadania definitiva.

EUROPA

Também há frustração de quem estava na Europa. Com sotaque que destoa do da zona rural de Sardoá, próximo a Valadares, Sandro Araújo, 23, morou em Portugal com a família desde os 11 anos.

Os pais retornaram ao Brasil em 2008 e ele ficou para trabalhar. No último Natal, voltou para casa após passar 2011 amargando filas diárias em centros de emprego.

"Lá eu não vivia, vegetava dentro de um apartamento."

Quem conseguiu o que queria, o fez a duras penas. O casal Cristiana das Dores, 29, e José Oliveira, 30, conseguiu juntar dinheiro em faxinas e obras para construir, em Sardoá, uma casa de três andares, típico imóvel que distingue os ex-emigrantes bem-sucedidos. Também têm poupança para abrir um negócio.

Para prosperar em meio à crise, tiveram de aumentar a já pesada carga de trabalho. Ela fazia até cinco faxinas por dia. Após viver nove anos nos EUA, começaram a conviver há 15 dias com a filha Hillary, 9, que foi criada pela avó.

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