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Retirada de famílias deixa rastro de destruição em São José dos Campos

Homem leva tiro nas costas e outras nove pessoas ficam feridas durante reintegração na periferia

Grupos incendeiam ao menos oito carros, além de uma escola e uma biblioteca; dezesseis pessoas são detidas

FELIPE LUCHETE
ROGÉRIO PAGNAN
ENVIADOS ESPECIAIS A SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

A reintegração de posse de uma área conhecida como Pinheirinho, em São José dos Campos, deixou um rastro de destruição nas ruas da cidade do interior paulista ontem.

Um homem levou um tiro nas costas e está hospitalizado. Outras nove pessoas ficaram feridas -entre elas um assessor da Presidência da República, um PM e um guarda civil- numa série de confrontos que se espalharam pelos bairros vizinhos, na região periférica do município.

Segundo a PM, prédios públicos -uma escola e uma biblioteca-, além de uma casa lotérica, foram incendiados.

Grupos também atearam fogo em oito carros, dois deles de órgãos de imprensa. Até a conclusão desta edição, o clima continuava tenso.

OPERAÇÃO

Atendendo a uma determinação da Justiça estadual, a Polícia Militar iniciou a operação por volta das 6 horas.

A área, pertencente à massa falida de uma empresa do megainvestidor Naji Nahas, foi invadida em 2004. Cerca de 6.000 pessoas moravam no terreno. Ontem, 3.000 estavam no local -metade já havia deixado as casas com medo de um possível conflito.

Parte dos moradores chamou a atenção ao formar um exército improvisado para resistir à polícia. Com escudos de latão, porretes e capacetes de motociclistas, passaram as últimas semanas à espera. Ontem, poucos usaram a indumentária. Isso porque disseram ter sido pegos de surpresa, pois uma outra decisão da Justiça, esta da esfera federal, havia barrado a reintegração.

À medida que deixavam suas casas, os moradores eram encaminhados para um centro poliesportivo onde a prefeitura oferecia vagas em abrigos municipais. Perto do local houve vários confrontos.

Foi ali que, durante um embate com guardas civis municipais, um homem foi atingido nas costas por uma bala de um revólver calibre 38.

Um inquérito foi aberto pela Polícia Civil para identificar o responsável pelo disparo. O comando da PM diz que o tiro não partiu de seus homens, já que o 38 foi "aposentado" pela corporação. A guarda civil de São José dos Campos utiliza esse revólver.

No desenrolar do dia, postagens em redes sociais na internet falavam em "mortes", aumentando o pânico. Movimentos sociais ligados a grupos sem-teto divulgaram nota classificando a ação policial como um "massacre".

A Folha presenciou um espancamento de um homem por um grupo de guardas civis. Os motivos não foram explicados. "É uma praça de guerra. São maloqueiros que querem depredar tudo", disse o comandante da guarda, Jorge de Assis Pinheiro.

A PM usava balas de borracha e bombas de efeito moral.

Dezesseis pessoas foram detidas durante o dia sob a suspeita de vandalismo. Segundo a PM, parte dos detidos não era morador da invasão.

ESTRADA FECHADA

A via Dutra chegou a ser interditada por manifestantes por cerca de uma hora e meia.

Advogado dos moradores, Antonio Ferreira disse ter sido baleado na virilha, no joelho e nas costas com balas de borracha. Paulo Maldos, secretário de Articulação Social da Presidência da República, foi atingido nas costas.

O comando da PM disse que, na área desocupação, houve resistência mínima.

Segundo a corporação, foram utilizados cerca de 2.000 policiais e bombeiros.

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