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Após desvio de bens, vítimas criticam indefinição sobre escombros no Rio

Autoridades não sabem informar quando donos terão acesso a material retirados de desabamento

Temor de perder objetos levou dentista a depósito; Folha flagrou operários retirando pertences nos entulhos

DIANA BRITO
PAULA BIANCHI
DO RIO
EDUARDO GERAQUE
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

A preocupação em perder bens valiosos para sempre, por causa da falta de cuidado dos órgãos oficiais com o entulho gerado pelos desabamentos no centro do Rio, fez o dentista Antônio Molinário ir ontem pessoalmente ao depósito onde os destroços estão sendo depositados.

No final da manhã, Molinário esteve no terreno na rodovia Washington Luiz, que liga a capital à região serrana.

"Logo que cheguei, os bombeiros disseram que a partir de agora eles estão no comando da operação de remoção."

Minutos depois, o dentista deixou o lugar sem conseguir entrar para ver se havia algo seu lá. "São 35 anos de vida de consultório que estão aqui."

Os desabamentos de três prédios na avenida Treze de Maio, na região central do Rio, na noite de quarta, matou pelo menos 17 pessoas. Ainda há cinco desaparecidos, segundo a Defesa Civil.

Na noite de ontem, quatro partes de corpos foram recolhidas no local para onde foram levados os destroços e o entulho do prédio.

Não se sabe ainda se são partes de um só corpo, ou de mais de um cadáver.

Segundo o Instituto Médico Legal, provavelmente só será possível fazer a identificação por exame de DNA.

Assim como Molinário, outras dezenas de pessoas com escritórios nos prédios perderam objetos e documentos.

Anteontem, a Folha flagrou operários desviando bens pessoais do meio do lixo colocado em um depósito provisório na zona portuária. Ontem, a região estava sem entulho.

"Desvio de bens em desabamento é lamentável", afirma o coronel Sérgio Simões, comandante do Corpo de Bombeiros e secretário estadual de Defesa Civil.

"Prefiro acreditar que o desvio não ocorre. Mas se realmente aconteceu, nos dá uma tristeza grande."

A prefeitura, até o fim da tarde, não havia se manifestado. Os órgãos públicos envolvidos na remoção dos destroços também não sabem informar quando os interessados poderão entrar no terreno e tentar recuperar algo.

RELÍQUIAS

O advogado Alexandre Flores Blatter, sócio de um escritório no 13º andar do edifício Liberdade, guardava algumas relíquias literárias. Uma caderneta de telefone de clientes ficou sobre sua mesa.

"Havia várias obras importantes da literatura jurídica. Algumas do século 19. Se alguém encontrar um desses livros provavelmente vai descartar", diz Blatter. "Muitas vezes, mesmo molhado, seria possível recuperá-lo".

O engenheiro Jayme Buarque de Holanda também está preocupado em resgatar ao menos parte do acervo do Instituto Nacional de Eficiência Energética, que ele dirige.

A ONG ocupava o oitavo andar do edifício Colombo. "A maior parte dos documentos estava em papel. Tínhamos muitos arquivos importantes nos computadores."

A queixa é que ainda não há posição oficial da data de acesso aos escombros.

"São apenas informações oficiosas", diz Blatter. "Os arquivos de aço, por exemplo, certamente estão inteiros, mesmo que avariados."

CÃES FAREJADORES

Equipes de bombeiros iniciaram ontem à tarde as buscas por desaparecidos em entulhos levados para o terreno na rodovia Washington Luiz, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.

Cães farejadores e máquinas escavadeiras ajudam a revirar os destroços. Mais de 30 mil toneladas de material foram levadas até o local.

Na tarde de anteontem, o corpo de uma mulher, misturado a terra e concreto, foi encontrado nesse depósito.

A Defesa Civil do Rio justificou o descuido dizendo que o resgate do corpo, no local da tragédia, ocorreu em um momento crítico: era madrugada e chovia forte.

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