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Aristéia Soares de Lima (1913-2012)

Uma remanescente do cangaço

ESTÊVÃO BERTONI
DE SÃO PAULO

Aos filhos Aristéia Soares de Lima não contava muito sobre o passado. Mas quando vinha alguém de fora, desembestava a falar sobre o cangaço. A alagoana de Canapi integrou o grupo de Moreno, do bando de Lampião.

Conta o filho Pedro, com quem Aristéia vivia há cerca de 15 anos em Delmiro Gouveia (AL), que a mãe, filha de agricultores, entrou para o cangaço por causa da polícia, "que judiava muito deles".

Uma irmã, que havia tomado a mesma decisão antes dela, acabou morta em tiroteio.

Naquele fim dos anos 30, arrumou um companheiro no bando: Catingueira. Quando ele foi morto, ela, grávida, entregou-se por achar mais seguro do que voltar para casa.

Só foi ver Lampião pela primeira vez quando expuseram sua cabeça em praça pública.

Ficou presa em Santana do Ipanema (AL), até que um tio conseguiu que a libertassem. De volta a Canapi, trabalhou como agricultora e teve mais três companheiros. Ao todo, foram oito filhos, diz Pedro. Hoje, só cinco estão vivos.

João, filho com Catingueira, foi morto em 1964, por um colega que tentou roubá-lo.

Há poucos anos, o pesquisador João de Sousa Lima, autor de "Moreno e Durvinha - Sangue, Amor e Fuga no Cangaço", descobriu Aristéia. Ela passou a ganhar cachês para contar suas histórias. Viajou para Fortaleza, Brasília, Salvador, Belo Horizonte e realizou o antigo sonho de voar.

"Tão me abusando demais com essas perguntas", brincava. Morreu no sábado, em Paulo Afonso (BA), aos 98, de complicações de saúde. Deixa netos, bisnetos e trinetos.

Segundo o pesquisador, só três cangaceiros ainda vivem.

coluna.obituario@uol.com.br

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