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Análise

Não basta prender pequeno traficante e derrubar prédios

VAGUINALDO MARINHEIRO
DE SÃO PAULO

O governo do Estado de São Paulo quer logo colher os dividendos da ação da Polícia Militar, largamente aprovada pela população.

Por isso, corre para decretar que a "cracolândia acabou", como fez a secretária da Justiça, Eloisa de Sousa Arruda, na semana passada.

Pouco importa que traficantes e usuários tenham migrado para outros lugares da cidade, e que pedras de crack sejam vendidas e consumidas ao lado de uma delegacia de polícia na região, a 77ª -fato revelado pela Folha anteontem.

O importante, para o poder público, é o simbólico -a retomada de um espaço no coração da cidade que era visto como terra sem lei.

O "aglomerado de zumbis" -os dependentes de crack- na rua Helvétia e na alameda Dino Bueno realmente acabou após o início da operação na região central.

Mas essa era a parte mais fácil. Bastava colocar a polícia para dispersá-los.

O difícil vem agora.

Experiências internacionais mostram que o fim de locais tomados pelo consumo e tráfico de drogas só se dá com uma ingestão de vida nessas áreas degradadas.

Embora seja essencial, não basta prender pequenos traficantes e derrubar prédios.

Se nada for construído no local, se não forem programadas atividades culturais, esportivas e de cidadania, se as pessoas não tiverem atrativos para frequentar a região, a venda e o consumo de drogas voltam.

O crack é um problema nacional, mas em São Paulo ele é mais grave.

Pesquisa feita pelo Datafolha na semana passada mostra que 8% dos paulistanos com mais de 16 anos já experimentaram a droga.

Isso significa cerca de 660 mil pessoas.

É um percentual muito maior que o verificado na média do país (2%) e indica facilidade de acesso.

Com tamanha exposição a uma droga considerada tão viciante, é temerária e prematura toda comemoração na luta contra o problema.

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