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Comissão discute se abuso da imprensa pode reduzir prisão

Ideia debatida por grupo do Senado é que o juiz considere a cobertura para fixar a pena

'É uma compensação moral', explica um dos autores da proposta que pode reduzir tempo de reclusão em 1/6

FILIPE COUTINHO
DE BRASÍLIA

A comissão de juristas criada pelo Senado para elaborar o novo Código Penal vai discutir se a cobertura "abusiva e degradante" feita pela imprensa poderá reduzir a pena dos réus condenados.

A Folha teve acesso à versão do novo Código Penal com as regras para a aplicação de penas, produzido pelos quatro juristas da subcomissão das normas gerais.

O texto foi apresentado na semana passada dentro da comissão de 17 notáveis e não houve rejeição.

O projeto será votado em março pelo grupo e depois será discutido pelos senadores.

ATENUANTE

Pelo texto, o juiz deverá considerar a cobertura da imprensa junto a outros fatores para determinar a pena, assim como já ocorre com a motivação do crime e a conduta do acusado.

Na prática, o tempo de reclusão pode ser reduzido em 1/6, tempo médio que o juiz aplica para cada atenuante.

"Por vezes, verifica-se que a condenação se fez em escala bem menor àquela atingida pela divulgação", diz o documento da subcomissão.

Os juristas afirmam que não haverá nenhuma sanção ou censura à imprensa.

O desembargador José Muiños, um dos autores da proposta da comissão, cita como situação hipotética o caso do médico Roger Abdelmassih, foragido e condenado por estupros.

Muiños explica que o juiz do caso poderia levar em conta a cobertura feita pela imprensa, caso entenda que foram publicados mais casos de estupro do que efetivamente condenações -e que isso tenha representado um abuso à imagem.

"É para que o juiz considere que a sanção que o condenado sofreu moralmente possa ser um atenuante. É uma compensação moral", afirma o desembargador.

O advogado e professor René Dotti, membro da comissão, usa como exemplo o apresentador de televisão que faz campanha e condena publicamente uma pessoa.

"É o limite entre a liberdade de informação e o abuso dessa liberdade", diz.

ATUALIZAÇÃO

Assim como aconteceu com o novo Código do Processo Civil, o Senado criou a comissão de notáveis como forma de acelerar a elaboração do texto e evitar questionamentos jurídicos sobre as novas regras.

O objetivo é atualizar o Código Penal, feito em 1940.

Como a Folha revelou, a ideia é restringir as penas de prisão para casos mais graves e violentos.

Serão elaboradas novas propostas, como a criminalização dos ataques virtuais, a eutanásia e o enriquecimento ilícito.

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