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'Pena foi desproporcional', diz advogada de Lindemberg

Para Ana Lúcia Assad, condenação a 50 ou 55 anos teria sido 'mais real'

Defensora atribui sentença de 98 anos ao clamor público e diz que seu cliente não é 'um anticristo, um monstro'

ROGÉRIO PAGNAN
DE SÃO PAULO

Ana Lúcia Assad, 30, advogada de Lindemberg Alves Fernandes, disse ter sido surpreendida com os 98 anos e dez meses de pena determinados pela Justiça -na prática, ele cumprirá no máximo 30 anos, conforme a legislação.

Lindemberg já está há três anos na cadeia por causa da morte, em 2008, de sua ex-namorada Eloá Pimentel, que ficou em cárcere privado por mais de cem horas em Santo André, na Grande São Paulo.

Assad causou polêmica durante o julgamento, encerrado anteontem após quatro dias de duração. Chegou a dizer que a juíza precisava voltar para a escola. Também mostrou coletes à prova de bala que disse que usaria por estar sendo atacada tanto no tribunal quanto nas ruas por defender Lindemberg.

"Ele não é um anticristo, um monstro ou um psicopata como ficou marcado". Para a advogada, 50 anos de detenção teriam sido "mais real".

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Folha - A sra. ficou surpresa com a pena aplicada?
Ana Lúcia Assad - Fiquei. Fiquei muito surpresa porque a pena foi totalmente desproporcional. Não foi dada a oportunidade ao conselho de sentença, aos jurados, de decidir sobre a possibilidade do crime continuado, que é uma atenuante, como prevê a lei.
A pena de 98 anos teria sido bem menor e muito mais proporcional à realidade processual.

Quantos anos esperava?
Se ela tivesse acatado nossa argumentação, de crime continuado, a pena teria sido de 50 a 55 anos, que nos parece muito mais real.

A que atribui esse resultado?
O clamor público, a repercussão do caso. Os jurados também eram telespectadores que acompanharam toda a publicidade do caso teve.
Foram 101 horas de cobertura do caso por todos veículos de comunicação e os dias e semanas da imprensa divulgando tudo aquilo.
E tive uma hora e meia para mostrar para os jurados quem é Lindemberg. Que não é um anticristo, monstro ou psicopata como ficou marcado. É uma rapaz que, numa fase de vida, tomou decisões erradas.

E o episódio com a juíza contribuiu negativamente?
Tive reação à ação dela. A ação dela foi quando eu arguí sobre o princípio da busca da verdade real. Ela disse que ele não existia ou não tinha esse nome. Eu disse que ela tinha que ler mais sobre o princípio, estudar. Na verdade, não houve desrespeito nenhum porque eu reagi a uma ação dela.

De querer humilhá-la?
Não existe hierarquia entre nós. O que existe deve ser recíproco de respeito e urbanidade. Ela me desrespeitou. Tentou palavras jocosas no sentido de me humilhar e eu reagi. Nunca tive intenção de desrespeitá-la ou humilhá-la. Lembrando que estávamos num embate acalorado.
Se ficar preocupada como eu devo me expressar na defesa técnica, o acusado está mal defendido. Por isso existe essa prerrogativa de imunidade profissional. Usar de todos os meios necessários de promover a defesa.
Sou advogada há quase 12 anos. Se eu não conhecer o princípio da busca da verdade real, quem vai conhecer?

A sra. acha que errou em algo?
Não parei para pensar. Mas tenho certeza de que tentei o melhor. Penso ter demonstrado quanto é honrosa a profissão do advogado, independentemente de quem seja o acusado.

Ficou surpresa quando a promotoria abriu mão da réplica?
Sinceramente, não. Até imaginava. É muito mais fácil acusar do que defender.

A sra. acredita ter alguma chance no TJ?
Acredito no Estado democrático de direito. Acredito nos desembargadores, nos ministros. E por acreditar neles, e na lei, eles seguirão a lei da forma como o legislador desejou. O dia que deixar de acreditar nos tribunais, preciso buscar outra profissão.

A sra. gostaria de falar alguma coisa para alguém?
Para o seu leitor: nem sempre a mão que atira, que puxa o gatilho, é a mão que mata.

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