Análise

Prefeito faz discurso duro, mas preserva apoio político

KASSAB PRECISAVA DAR UMA RESPOSTA AO VANDALISMO. MAS, AO MESMO TEMPO, ELE NÃO PRETENDE SE INDISPOR COM OS SAMBISTAS

Gilberto Kassab (PSD) fez um discurso forte, poucas vezes visto em seu governo, para mostrar o quanto será duro com as escolas de samba causadoras da confusão na apuração do Carnaval.

Kassab disse que "a prefeitura será implacável" e que "jamais vai tolerar a convivência" com as escolas que causaram a baderna.

São termos incomuns no discurso do quase sempre insosso e diplomático prefeito.

Mas, entre palavras duras, ele deixou em aberto a possibilidade de que nenhuma escola seja punida.

"Uma coisa é uma ação isolada de alguém, outra coisa são os dirigentes e o trabalho orquestrado deles em relação aos incidentes", afirmou.

Ou seja, se não ficar provado que a direção de alguma escola premeditou a confusão, nada vai acontecer.

Não é à toa. Kassab precisava dar uma resposta a altura do vandalismo transmitido em rede nacional.

Mas, ao mesmo tempo, ele não pretende se indispor com os sambistas que se tornaram uma importante base de apoio político de seu mal avaliado mandato.

Kassab conquistou os sambistas ainda em seu primeiro mandato, quando prometeu a eles a construção da Fábrica do Samba, um local próximo ao sambódromo onde eles poderão construir seus carros alegóricos e fantasias. Não precisarão mais se espremer sob viadutos -das 125 áreas ocupadas pelas agremiações, 86 são cedidas de graça pela prefeitura.

O governo ainda faz vistas grossas ao barulho causado pelas escolas durante os ensaios, que em geral incomodam os vizinhos.

E, ano a ano, Kassab vem aumentando os recursos investidos no Carnaval. Neste ano, cada escola recebeu cerca de R$ 700 mil a título de cachê artístico.

O prefeito não é candidato neste ano, mas ele jamais deixaria uma base de apoio político como essa, que envolve cerca de 100 mil pessoas, abandonada à própria sorte.