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Em Batatais, quadros de Portinari têm até cupim

Impasse gera atraso em restauro de igreja

DARIO DE NEGREIROS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE RIBEIRÃO P RETO

Em 1953, quando sete obras de Candido Portinari (1903-62) passaram a ser expostas na igreja Senhor Bom Jesus da Cana Verde, em Batatais, no interior de São Paulo, o artista fez uma advertência: o excesso de luminosidade do local poderia, a longo prazo, prejudicar as pinturas.

Passados quase 60 anos, não só a luminosidade exagerada continua, como as telas já sofrem com outros problemas, como cupins, goteiras, infiltrações e calor excessivo.

Hoje, além das sete obras, a paróquia tem outras 14, recebidas em 1955 -o maior acervo sacro do pintor. Segundo o leiloeiro James Lisboa, o valor de mercado pode chegar a R$ 139 milhões.

O Iphan afirma que só autoriza o restauro se a paróquia passar por reforma para acabar com as infiltrações, a umidade e o excesso de luz.

CONDIÇÕES

Para liberar o projeto de restauro, feito pela prefeitura e orçado em R$ 321.501, o Iphan exige ainda que sejam retiradas da igreja as obras que não são de Portinari. Segundo o instituto, elas descaracterizariam o acervo do artista.

O secretário de Turismo de Batatais, Antonio Carlos Corrêa, diz que essas obras serão retiradas e que problemas com cupins e goteiras foram resolvidos. Ele admite, porém, que excessos de umidade e luminosidade permanecem.

Apesar de Batatais ter recebido, neste ano, mais de R$ 2 milhões do Estado por ser uma estância turística, o secretário afirma que não pode usar a verba para reformar a igreja.

O arcebispo de Ribeirão Preto, dom Joviano de Lima Júnior, diz que tampouco a Igreja tem dinheiro para as obras.

Corrêa reclama da "morosidade" do Iphan para aprovar o restauro.

Anna Beatriz Galvão, superintendente do órgão em São Paulo, diz que a autorização não é simples. "Não é preciosismo. Sem isso, o trabalho de restauro vai se perder."

Filho do pintor e estudioso das obras do pai, João Candido Portinari concorda. "Não há demora [do Iphan]. São demandas legítimas."

DANOS

No quadro "A Transfiguração", avaliado em R$ 20 milhões, a quebra de uma calha deixou marcas na pintura.

Já na tela "O Batismo de Jesus", de valor semelhante, o vazamento da caixa d'água do banheiro manchou a parte central da obra. Rachaduras possivelmente causadas pelo excesso de luz e de calor são vistas em várias pinturas.

Para completar, a obra "Sagrada Família", avaliada em R$ 20 milhões, ostenta dois furos na parte inferior, causados pelo ataque de cupins.

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