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Grafiteiros trocam spray por extintores

Dispositivo é usado para pichar letras gigantes, muitas delas indecifráveis, que atingem até sete metros de altura

Muros de prédios, viadutos e túneis da região central e zona oeste estão entre as principais 'vítimas'

Isadora Brant/Folhapress
Pichação com letras gigantes no viaduto da Doutor Arnaldo; movimento tem adeptos nos Estados Unidos e na França
Pichação com letras gigantes no viaduto da Doutor Arnaldo; movimento tem adeptos nos Estados Unidos e na França

VANESSA CORREA
DE SÃO PAULO

As indecifráveis letras espalhadas pelos muros da cidade são uma forma de arte ou apenas depredação de patrimônio? Um novo tipo de pichação, considerada vandalismo extremo até por quem a pratica, vai esquentar ainda mais essa discussão.

Grafiteiros paulistanos -alguns deles artistas renomados- estão trocando, em segredo, suas latinhas por extintores de incêndio cheios de tinta preta ou colorida.

O resultado, torto e escorrido, devido à dificuldade de controlar o jato, começa a aparecer nas paredes, viadutos e túneis da cidade.

"Tags" (assinaturas) como VLOK, VERSUS, ENO, LARPUS E NAO (em maiúsculas, como são pichadas), com letras que passam dos sete metros de altura, fazem outras pichações, que normalmente não atingem os três metros, parecerem nanicas.

Em São Paulo, a técnica começou a ser usada há cerca de três anos, trazida por artistas brasileiros que voltavam do exterior. A partir do ano passado, ganhou mais adeptos e mais espaços.

Em 2010, o artista nova-iorquino Krink pintou, a convite, a fachada do MIS (Museu da Imagem e do Som) usando um extintor. "Eu deixei alguns extintores com amigos depois do trabalho, e eles gostaram bastante de usar", conta Krink, que não se considera um grafiteiro.

Poucos pichadores (diferente de grafiteiros, que fazem desenhos) conhecem o método. Do ponto de vista de quem picha, ele tem a vantagem de produzir letras de grande impacto em apenas alguns segundos.

"Os caras ainda olham e pensam: como é que conseguiram fazer desse tamanho?", diz o grafiteiro paulistano A., que falou sob a condição de anonimato. "Se cair na mão de pichador, vai cair na mão de todo mundo."

E já há pichadores na fila. Como N., que pichou os muros das casas do juiz Nicolau dos Santos Neto, o Lalau, e do casal Nardoni, na época em que seus crimes alcançaram grande repercussão.

Ele diz que está só esperando para ganhar o "brinquedinho" prometido por um colega grafiteiro para espalhar sua marca pela cidade: "OSBV", um abreviação da frase "os bicho vivo".

NA MESMA MOEDA

Para o grafiteiro Mundano, esse tipo de vandalismo extremo "é uma resposta agressiva à prefeitura", que apaga as pichações e grafites com jatos de tinta cinza.

As pichações com o extintor não parecem conter nenhum tipo de protesto específico, mas trazem a mesma atitude contrária ao sistema de outros tipo de intervenção urbana. "De algum jeito, a gente quer atingir o sistema. Se não incomodar, a gente não vai mais fazer", diz A.

Mas uma ação com o extintor em São Paulo se destacou pelo tom de protesto.

Em janeiro, um grupo munido de extintores praticamente lavou de azul a fachada da sede do Ibama na capital. A ação foi um protesto para lembrar o segundo aniversário da licença ambiental prévia concedida pelo órgão do meio ambiente para as obras da usina de Belo Monte, no Pará.

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