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Jovens levam pais e avós ao universo das tatuagens

Incentivada pela família, geração mais velha começa a pintar o corpo

Mudança do público é observada pelos próprios tatuadores, que afirmam sentir menos 'preconceito'

MARIANA POLI
DO “AGORA”

Quando soube que a neta tinha feito uma tatuagem, a aposentada Maria Aparecida Lacerda, 69, não ficou brava. Pelo contrário: tomou coragem e, decidida, foi ao estúdio do sobrinho, que é tatuador, fazer uma também.

"Sempre quis ter uma, mas, na minha época, minha mãe não permitia nem em sonho", diz Maria Aparecida, que é avó da estudante Marília Porfírio, 24, e ganhou uma tatuagem nas costas.

Improvável há alguns anos, a ousadia da avó revela uma tendência. Segundo profissionais, há um número considerável de cinquentões, sessentões e até setentões que os procuram para fazer a primeira tatuagem.

"Os jovens que faziam tatuagem nos anos 1970 envelheceram e abriram portas", afirma José Carlos, o Zumba, dono do estúdio Divina Arte Tattoo e Piercing. "Aqueles que se frustraram por não fazer uma 'tattoo' quando jovens podem fazê-la agora."

"Já tatuei vários idosos, como uma senhora que fez a primeira tatuagem aos 82", conta Sergio Maciel, conhecido como Led's e dono de um estúdio de mesmo nome.

O administrador de empresas Joaquim de Carvalho, 54, também recebeu estímulo em casa -mas da filha- para fazer a imagem de uma flor-de-lis, símbolo universal do escotismo, no ombro esquerdo.

"Quando ela foi fazer a dela, tive várias preocupações. E, quando chegou a minha vez, foi ela quem ficou com receio", diz. Carvalho contou com as dicas da filha, de 24 anos, para escolher um bom desenho, além de um estúdio de confiança.

"AMBIENTE FAMÍLIA"

Esse novo tipo de público já tem provocado uma mudança no clima nos estúdios de tatuagem, avaliam os próprios profissionais.

"Se você for a um estúdio no sábado à tarde, vai encontrar pai, mãe, tio, tia, avós e netos", afirma Miro Dantas, tatuador do Gelly's Tattoo. Segundo ele, a mudança reflete uma quebra de preconceitos. "A tatuagem virou programa de TV, atingiu celebridades e se tornou comum."

O ex-militar Carlos Rodrigues Paz, 58, concorda. Estreante no universo dos tatuados, ele conta que foi a popularização da prática que o encorajou a fazer em seu braço uma homenagem aos pretos velhos da umbanda.

"Até pouco tempo, havia muito preconceito com tatuagem. Agora, ficou mais leve", afirma ele.

Paz foi levado ao estúdio pela filha de 28 anos -também tatuada.

Ele considera que a idade dele é uma fase boa para se tatuar. "Você tem mais maturidade, já pensou muito a respeito", explica.

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