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80 a década que nunca termina

Período ganha mais um 'revival do revival' com shows, reinaugurações e festas que reúnem toda a família

ROBERTO DE OLIVEIRA
DE SÃO PAULO

Camisa de manga longa, sapatos de bico quadrado, calças de cintura alta e um topetão arredio, mantido à base de gel. Assim Vinicius Santiago gosta de transitar, com um "look" em homenagem aos anos 1980.

A "viagem" até a década, que insiste em nunca terminar, foi "patrocinada" pela banda The Smiths, sua favorita. E pelo ex-vocalista do grupo, Morrissey, que canta hoje em São Paulo.

Boa parte do público que irá se juntar em torno de Morrissey passou a adolescência e a vida adulta cultuando os 80. Vinicius não.

Ele tem 22 anos. Descobriu o quarteto e, consequentemente, os 80, recentemente. Foi por acaso: ele viu uma moça andando pela rua com a camiseta do disco "Meat is Murder", que chamou-lhe a atenção.

Em casa, passou a noite em claro vidrado no YouTube. Viu e ouviu tudo dos Smiths. De manhã, baixou da internet o que encontrou.

"Os 80 têm toda aquela atmosfera que influenciou a estética, a música e a cultura até hoje", diz ele, que canta numa banda cover dos -advinha?- Smiths. "Os 60 foram revolucionários para os meus avós. Os 80, para os meus pais e para mim."

O culto aos anos 80 vem atravessando gerações.

Ganhou força no início dos anos 00, quando foi alçado à categoria "cult" por conta da Trash 80's, balada no centro paulistano que, voltada a moderninhos, ainda persiste. No som, vinis de Gretchen, Wando e Sidney Magal. "Quando começamos, nosso público era de trintões, que cresceram embalados pelos 80, e poucos jovens, que nasceram naquela década e viveram com os pais oitentistas", conta Júnior Barros, 29, coordenador da casa. Hoje, quem vai lá tem de 20 a 25 anos.

Desse baú saudosista, começaram a pipocar pela cidade e pelo país festas temáticas. Além do som, a ideia era recordar, saudar e apresentar (para quem não conhecia) objetos tão díspares como o videogame Atari, o boneco Falcon e os mini-chicletes Adams.

AULAS E BAILINHOS

Agora, mais uma releitura está em voga em clima de "revival do revival".

Antes "underground", o culto tem ares de "festa família". De bailinhos de debutantes a bodas de prata, a trilha oitentista, acompanhada de quinquilharias, continua animando a festa.

Até a molecada entra na dança com direito a "aulas" daqueles velhos tempos em festas de hotéis e resorts.

No Hotel-Fazenda Dona Carolina, em Itatiba (SP), os 80 animam casais quarentões, adolescentes e crianças no mesmo espaço.

Aquele "arsenal" saudosista que enche os olhos de saudade do papai não é mais "bicho de sete cabeças" para os filhotes. "É uma forma divertida de a garotada descobrir objetos que, apesar de antigos, para ela são novidade", conta Fábio Moraes, gerente de eventos sociais. "E é também uma forma lúdica de os pais se aproximarem das crianças e interagirem com elas. De quebra, eles matam a saudade."

E tem mais. Os Titãs fazem show do clássico disco "Cabeça Dinossauro", com ingressos esgotados. A banda The Sisters of Mercy ia tocar ontem em São Paulo. Sérgio Mallandro, outra figura que é a cara dos 80, retorna à TV com "reality show" em abril.

O Madame Satã, um dos templos da noite paulistana daquela década, voltou. Rebatizada apenas de Madame, a casa irá dedicar os sábados aos embalos oitentistas. Atores e dançarinos farão intervenções performáticas ao longo da noite.

Nada mais anos 80, não é mesmo? "As apresentações trazem releituras modernas", conta Paula Micchi, 43, programadora. Modernidade com gostinho "vintage": "A ideia é manter o modelo do antigo Madame, sabe? Aquele dos 80".

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