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Cônsul vê indício de ação 'irresponsável' da polícia

Brasileiro foi morto em Sydney após ser atingido por disparos de arma de choque

No último contato feito com a família, Beto disse à irmã, entre frases desconexas, estar sendo 'ameaçado'

ANDRÉ MONTEIRO
RICARDO GALLO
DE SÃO PAULO

Os indícios até agora apontam que a polícia australiana agiu de modo "irresponsável" na ação que resultou na morte do estudante brasileiro Roberto Laudisio Curti, 21, afirma o cônsul-adjunto do Brasil em Sydney, André Costa.

Beto, como era conhecido, foi morto no domingo depois de receber disparos de Taser (pistola de choque) dadas por policiais de Nova Gales do Sul, Estado australiano do qual Sydney é a capital.

O estudante era suspeito de ter furtado um pacote de bolachas de uma loja de conveniência e depois fugido.

Para os amigos do brasileiro, ele foi morto por engano.

Segundo uma testemunha disse ao jornal "The Sidney Morning Herald", Beto recebeu "três ou quatro" disparos da pistola de choque, além de spray de pimenta. A polícia não contestou essa versão -e disse que não dará detalhes enquanto investiga o caso.

"O que se tem até agora divulgado pela mídia mostra uma conduta irresponsável. Um único disparo é eficiente para neutralizar alguém. Mais de um disparo se torna letal, ainda mais combinado com spray de pimenta, que acelera o ritmo cardíaco", afirmou o cônsul-adjunto.

O caso tomou proporção "gigantesca" na Austrália, em especial por causa do uso da arma de choque, cujos riscos já eram debatidos no

país, segundo o diplomata. O governo brasileiro, em nota, disse "deplorar" a morte.

Uma comissão independente irá apurar as circunstâncias da morte e se houve erro ou abuso policial, segundo o ouvidor da Polícia Estadual de Nova Gales do Sul.

O corpo de Beto foi submetido a autópsia; a polícia não divulgou a causa da morte.

Na madrugada de domingo, Beto ligou para a irmã e, aparentando estar alterado, disse frases desconexas e afirmou que estava sob ameaças, disseram dois amigos do brasileiro. Essa informação também chegou ao cônsul.

Foi o último contato entre o rapaz e a família. O que se sabe é que ele havia acabado de sair de uma casa noturna onde esteve com amigos.

A partir daí, o cenário se torna nebuloso: um funcionário da loja de conveniência afirmou que um rapaz invadiu o local sob efeito de álcool ou drogas e falando coisas sem sentido. Desarmado, saiu com um pacote de bolachas.

A polícia o abordou sob a premissa de que Beto era essa pessoa; para os amigos do brasileiro, não há certeza de que foi ele que invadiu a loja.

O vídeo da loja, capaz de tirar essa dúvida, está com a polícia e não foi divulgado.

Colaborou ROSANGELA SILVA, em Sydney

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