Índice geral Cotidiano
Cotidiano
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Manual da polícia local manda evitar choques seguidos

Para cardiologistas, sequência de disparos da Taser pode provocar arritmia e parada respiratória, levando à morte

'É para contenção; se for dado mais de um choque seguido, passa a ser um instrumento de tortura', diz médico

DE SÃO PAULO

O manual de procedimentos da polícia do Estado de Nova Gales do Sul orienta seus agentes a não dar choques consecutivos nas pessoas atingidas por dardos elétricos disparados por uma arma Taser. O risco é que o alvo dos disparos "tenha ferimentos graves ou morra".

Foi a corporação que disparou contra Roberto Laudisio Curti, 21, que morreu no domingo, em Sydney, capital de Nova Gales do Sul. Uma testemunha disse ao jornal "The Sunday Morning Herald" ter havido "três ou quatro disparos" contra Beto, como o rapaz era conhecido.

O manual preconiza que choques seguidos devem ser "evitados". Se isso for impossível, o policial é obrigado a justificar a sua decisão.

A polícia disse que não se manifestará enquanto o caso estiver sob investigação.

Se essa versão se confirmar, estará provado que os policiais que tentaram detê-lo durante uma perseguição agiram com imprudência.

CONTENÇÃO

"O Taser é uma arma de contenção. Se for dado mais de um choque seguido, ele passa a ser um instrumento de tortura", afirmou o cardiologista Sérgio Timerman, diretor acadêmico da Escola de Ciências da Saúde da Universidade Anhembi Morumbi.

"A arma é de baixa letalidade, mas quando se dá mais de um choque ela pode causar arritmia cardíaca e parada respiratória, o que pode matar", afirmou Agnaldo Píspico, diretor da Sociedade de Cardiologia de São Paulo.

"Se a pessoa estava molhada ou drogada, o resultado pode ser mais grave", disse.

LETALIDADE

No mês passado, a ONG Anistia Internacional divulgou relatório mostrando que 500 pessoas morreram nos EUA vítimas do Taser desde 2001. Parte estava sob efeito de drogas ou morreu após sofrer traumas devido à queda.

"Ainda não há pesquisas sobre o efeito do choque em pessoas drogadas. Isso é necessário para avaliar a letalidade", afirmou Timerman.

Estudo da Escola de Medicina da Universidade da Califórnia avaliou 50 pesquisas sobre o uso da Taser e concluiu que há poucas conclusões isentas: a maioria falava em baixa letalidade, mas quase a metade era financiada pela fabricante do Taser.

Apenas uma pesquisa concluiu que o índice de letalidade da arma não é baixo.

(AFONSO BENITES E RICARDO GALLO)

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.