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Bichos

JAIME SPITZCOVSKY jaimespitz@uol.com.br

Tablet sensível ao toque da pata

A presença dos pets no trabalho traz benefícios também àqueles que não abrem espaço aos bichos

Acompanho, com indisfarçável dose de inveja, experiências e debates sobre a presença de pets em ambientes de trabalho nos EUA. Desconheço ações semelhantes no Brasil e espero, até mesmo por meio deste espaço, conhecer iniciativas de abertura a cães e gatos no universo do estresse das atividades profissionais. Quem sabe eu possa encontrar uma Redação disposta a acolher um jornalista e seus nove cães.

Brincadeiras à parte (evito mais atividades a meu já atribulado dia a dia e duvido que uma Redação me aceitasse ao entrar com a Nadia, Bianca, Boris, Meg, Hooper, Francesca, Lela, Chico Bento e Rosinha), considero a opção da jornada em dupla atraente. E tentarei enfileirar argumentos que fujam à óbvia, e fundamentada, acusação de eu não representar parte neutra no debate.

O natural caminho das pedras corresponde a alinhar razões cobertas de embasamento científico. Estudos sobre a presença de colegas de trabalho de quatro patas existem há um bom tempo, mas recentemente deparei-me com um texto no site da norte-americana National Public Radio empenhado em abrir vagas no mercado de trabalho a espécies fora da órbita humana.

Pesquisa publicada no "International Journal of Workplace Health Management" busca alicerçar os argumentos sobre cães como antídoto ao estresse do ambiente profissional e até mesmo amplia o horizonte do impacto canino ao argumentar que a presença do novo colega de trabalho traz benefícios também àqueles que não abrem espaço em suas vidas a seres de quatro patas.

O texto no site do NPR recorreu à psiquiatra Sandra Barker, da Universidade de Virginia Commonwealth, para explicar a contaminação. Ela afirmou, em suas observações, ter testemunhado vários trabalhadores "emprestando" o cão do escritório para uma voltinha no quarteirão, em vez de, no intervalo, se apoiar na máquina de café e apertar um botão para ganhar a bebida tecnologicamente açucarada. "As pessoas ganham assim mais exercícios", comemorou Barker.

Concordo que até o sobrenome da pesquisadora sugere um viés ("to bark", em inglês, significa latir). Mas enfrento o ceticismo apoiado em infindáveis estudos demonstrando que a interação com o animal de estimação pode diminuir a pressão arterial e encorpar níveis de neurotransmissores, entre outros benefícios perceptíveis a olho nu.

De novo, os céticos. Argumentarão que os cães podem latir, brigar e até mesmo infestar o ambiente com pulgas, o que levaria os trabalhadores a perder tempo se coçando, em detrimento da produtividade. Tudo isso é administrável, com a "contratação" apenas de animais de bom comportamento, sãos e limpos; com carteira de vacinação, vermifugação e antipulgas em dia.

Numa era em que vejo departamentos de recursos humanos investindo quinhões de tempo e polpudos recursos para melhorar o ambiente profissional, sugiro a adoção de uma alternativa ecologicamente correta e, sobretudo, bastante barata: permitir a presença dos pets no trabalho. Falta agora, para eles trabalharem, um tablet com tela sensível ao toque de uma pata.

AMANHÃ EM COTIDIANO
Francisco Daudt

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