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Kassab reinterpreta lei para multar quem ameaça ciclista

Pressionado por mortes, prefeito adapta código na tentativa de punir motorista

Sem nunca ter multado quem ameaça ciclistas, CET quer viabilizar punição usando artigos genéricos da lei

Eduardo Knapp/Folhapress
Ciclista trafega na av. Paulista
Ciclista trafega na av. Paulista

JOSÉ BENEDITO DA SILVA
FÁBIO TAKAHASHI
DE SÃO PAULO

Sob pressão de cicloativistas, que cresceu após casos de mortes por atropelamento e protestos por ciclovias, a gestão do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), decidiu reinterpretar leis de trânsito para multar o motorista que colocar ciclistas em risco.

A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) nunca multou um motorista por desrespeito ao ciclista na cidade.

A prefeitura alega que não consegue aplicar o único artigo do Código de Trânsito Brasileiro que protege os ciclistas -o 201, que fixa a distância mínima de 1,5 m entre carro e bicicleta-, pois a CET não tem como comprovar com exatidão essa distância.

Para contornar esse problema, a prefeitura decidiu agora enquadrar o motorista que ameaça ciclista com base em outros dois artigos da lei, mais genéricos, que não citam especificamente os ciclistas.

Um dos artigos é o 169, que considera infração "dirigir sem atenção ou sem os cuidados indispensáveis à segurança" (multa de R$ 53).

O outro é o 197, que pune o motorista que faça conversão "brusca" (multa de R$ 85).

Neste caso, a ideia é multar o motorista que faz conversão e fecha o ciclista ao seu lado.

Representante dos marronzinhos, Alfredo Coletti diz que "a alteração é um subterfúgio para um ano eleitoral".

Para ele, não adianta mudar o entendimento da lei, se "a CET tem deficit de agentes e não tem quem multe".

A companhia afirmou que, entre 2007 e 2010, o número de agentes aumentou 30%.

A nova estratégia da CET, que começa a ser aplicada em maio -em data indefinida- começou a ser traçada em 29 de março, em reunião do secretário de Transportes, Marcelo Branco, e cicloativistas.

A reunião foi precedida pela morte de uma ciclista na Paulista. Dias depois, outro ciclista morreu, na av. Pirajussara, onde deveria existir uma ciclovia desde 2010.

A mudança foi bem recebida por cicloativistas. "Muitos dão finas em ciclistas por não concordarem com a nossa presença. Estamos esperançosos", diz Willian Cruz.

Já Felipe Aragonez, do Instituto CicloBR, diz que a alteração pode ajudar, mas que a prefeitura deveria insistir no artigo que cita a distância.

"Se o motorista recorrer, ele pelo menos terá o constrangimento. E agora será infração leve [no caso do artigo 169], antes seria média".

José Almeida Sobrinho, do Instituto Brasileiro de Ciências de Trânsito, diz que a iniciativa "é válida", mas a eficácia só poderá ser avaliada após julgamentos de recursos de multas, que citarão artigo não específico. "O problema será resolvido definitivamente com ciclovias."

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