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Sem coveiro, distrito só enterra morto se família cavar sepultura

JULIANA COISSI
ENVIADA ESPECIAL A MONTE BELO (MG)

É "proibido" morrer aos finais de semana em Jureia, distrito de Monte Belo, cidade do sul mineiro. Sem ter um coveiro exclusivo, o cemitério local precisa contar com a ajuda das famílias.

O problema ocorre desde que "Tonho da Água", o funcionário municipal Antônio Pereira da Silva, se aposentou, há dois anos.

Além de coveiro, ele era o "faz-tudo" do distrito de 1.200 habitantes: cuidava do encanamento, fazia pequenos consertos. Mas quando um vizinho morria, ia trabalhar no cemitério de Jureia.

Sem substituto, todo morto agora precisa esperar José Bento da Silva, coveiro de Monte Belo que também cuida do cemitério de Santa Cruz, outro distrito da cidade.

Durante a semana, ele se desloca com mais facilidade a Jureia. Mas aos finais de semana, quando Silva está de folga, parentes mortos correm o risco de não encontrá-lo.

Moradores de Jureia dizem que já chegaram a cavar praticamente sozinhos a sepultura. Segundo eles, Silva chegou só no final da cerimônia.

A ajuda foi também necessária para enterrar Ariovaldo Borges, o último morto do distrito, em janeiro.

O lavrador Natalino Batista Rosa, 52, conta que já está acostumado a ajudar a enterrar os vizinhos, mas se disse emocionado quando teve de fazer o trabalho para Borges, que era seu cunhado.

"É muito constrangedor, é um choque emocional. A gente se emociona muito ao ter de sepultar o próprio parente", conta Rosa.

O cemitério é o retrato do abandono. Com mato alto, faltam calçadas para separar os túmulos. Alguns, aliás, mal parecem sepulturas: são apenas uma montanha de terra, com flores secas.

"Perto de Finados [em 2011], arrumei uns vizinhos para limpar o mato, mas já está tudo tomado de novo", disse a dona de casa Maria Aparecida Madeira.

NOVO COVEIRO

O secretário da Administração de Monte Belo, Genivaldo Teixeira, disse desconhecer a informação de que parentes tiveram de abrir covas dos entes mortos.

Um segundo coveiro, aprovado em processo seletivo, deve assumir em maio para atuar nos três cemitérios.

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