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Após 4 meses de ação policial, tráfico persiste na cracolândia

Objetivo inicial era que venda de crack na região acabasse em um mês

Governo comemora a internação de 488 pessoas no período e a redução do número de usuários na área

AFONSO BENITES
DE SÃO PAULO

"Quer um bloco?"

A pergunta feita a um homem que caminhava pelas ruas da cracolândia no início da noite do último sábado demonstra que, contrariando as previsões da polícia, o tráfico ainda não acabou na região central de São Paulo.

O questionamento foi feito por um traficante que, traduzindo, oferecia pedras de crack para o pedestre.

No começo do ano, quando a Polícia Militar intensificou a Operação Centro Legal e ocupou as principais ruas da Luz com cerca de 300 homens, o então comandante-geral da corporação, Álvaro Camilo, afirmou que em 30 dias o tráfico de crack estaria desarticulado na área.

Às vésperas de a ocupação completar quatro meses, venda e consumo de drogas permanecem intensos ali.

Nos últimos cinco dias a Folha encontrou traficantes atuando na região em diversos momentos do dia. Ao redor desses criminosos, centenas de usuários. O problema, dizem policiais, é que um traficante preso é substituído em pouco tempo por outro.

"Na época mais grave, antes da ocupação da PM, prendíamos um traficante, e em 20 minutos já havia outro no seu lugar. Agora demora um pouco mais, mas a substituição ainda é rápida", afirmou o delegado Wagner Giudice, diretor do Denarc (departamento de narcóticos).

AVANÇO

Até agora, as autoridades dizem que os principais méritos da ação foram a internação de 488 pessoas para tratamento e a redução do número de consumidores na região.

Em dezembro do ano passado, eram de 800 a 1.000 pessoas. Agora, dependendo da hora do dia, são de 200 a 300.

Parte desses usuários migrou para outras regiões da cidade, como a avenida Roberto Marinho, na zona sul - onde já havia uma "cracolândia"-, a praça da Sé, no centro, e proximidades da avenida Rebouças nas imediações da avenida Paulista (oeste).

Moradores da Luz, porém, ainda reclamam do intenso trânsito dos viciados, que antes costumavam se concentrar no entorno da rua Helvétia, onde havia um casarão que lhes servia de "base".

"O jogo de gato e rato não acabou. Qualquer um aqui sabe quem é o traficante", reclamou um aposentado.

Na madrugada de domingo, antes da chuva, era possível ouvir os gritos dos traficantes oferecendo drogas. As aglomerações, que chegavam a ter até cem pessoas, só eram interrompidas com a chegada de policiais militares.

"A cracolândia ainda está longe de acabar, infelizmente", afirmou um bancário que vive há 15 anos no bairro.

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