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Bichos

JAIME SPITZCOVSKY jaimespitz@uol.com.br

Televisão para cachorro

Pioneiros da TV canina prometem som e cores feitos sob medida para os sentidos dos animais

Já se foi o tempo em que televisão de cachorro significava apenas um apelido para máquinas de assar frango estrategicamente colocadas na entrada de padarias e rotisserias. Conheci um canal de TV, com versões a cabo e on-line, desenvolvido para telespectadores caninos e apoiado por especialistas de renome, como Victoria Stilwell, da série "Ou Eu ou o Cachorro", e Nicholas Dodman, da Universidade de Tufts, outro papa em comportamento animal.

Se a DogTV (www.dogtv.com) funciona, ainda não sei. Seus inventores prometem relaxamento e diversão aos cães, sobretudo àqueles condenados a enfrentar horas de solidão entre quatro paredes. Prometem os pioneiros da televisão canina som e cores feitos sob medida para os sentidos de um animal de estimação notório por audição apurada e visão menos colorida do que a nossa.

Pretendo testar o mecanismo em breve. Na verdade, preferia poder trocar a devoção à tela por horas de caminhadas num parque ou por uma bateria de exercícios no quintal, mas o estilo de vida contemporâneo conspira contra. E, como não estamos dispostos a abrir mão do convívio com os cães, somos obrigados a fazer concessões à tecnologia.

Habituado à ideia de ver um controle remoto sob a pata do meu cão, passei a imaginar como eu montaria uma grade de programação voltada ao público canino, a partir dos produtos disponíveis para telespectadores humanos. Pensei numa classificação que não seria etária, mas por raças.

Ofereceria a pastores alemães e rottweilers o "Brasil Urgente", do José Luiz Datena. Acho até mesmo que esses cães, com sua vocação policial, poderiam identificar alguns de seus pares nas reportagens de fim de tarde da TV Bandeirantes.

Para cães da turma da segurança, seria sucesso garantido reexibir o seriado "O Vigilante Rodoviário", transmitido inicialmente pela TV Tupi nos anos 1960, com as peripécias do cão Lobo e do inspetor Carlos. Pastores alemães também curtiriam a filmografia do Rin Tin Tin.

Os magrelos e intrépidos corredores whippets teriam a interminável algaravia de programas sobre a Olimpíada de Londres. Ou então ficariam extasiados diante das corridas de carro, para mim de monotonia digna de paisagem siberiana, mas que seduzem quem vê graça em velocidade.

Elétricos border collies adorariam programas de esportes radicais, de emissoras como a ESPN. Vibrariam com imagens de skatistas superando obstáculos, assim como eles costumam fazer nas pistas de agility, esporte canino originado do hipismo. Collies de forma geral garantiriam a audiência dos episódios de "Lassie".

Vislumbro yorkies, malteses e poodles hipnotizados diante do "Mais Você", da Ana Maria Braga. Para os programas de culinária, como os de Jamie Oliver ou de Claude Troisgros, imagino a entretida audiência de um buldogue, sempre com aquela cara de bom garfo.

Faltaria só criar a pipoca especial para cães. A sessão ficaria completa.

AMANHÃ EM COTIDIANO
Francisco Daudt

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