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Aldeia dos esquecidos

Próximo ao pico do Jaraguá, guaranis convivem com os problemas causados por quase 300 animais abandonados

EDUARDO GERAQUE
DE SÃO PAULO

Na aldeia Jaraguá, na zona norte de São Paulo, é comum ver sempre algumas das 320 crianças da etnia Guarani correndo livres pelas ruas de terra que cortam a região.

Mais livres do que elas, no entanto, vivem os cães e gatos que costumam ser abandonados no local -próximo ao pico do Jaraguá- e que acabaram se tornando um problema de saúde pública.

Entre adultos e crianças, 700 índios vivem na aldeia. Segundo a prefeitura, 294 animais (cães e gatos) perambulam por ali -defecando e espalhando o lixo, que é coletado a cada 15 dias. Em 2011, esse número, segundo os índios, passava de 400.

Os motivos que levam as pessoas a abandonarem seus animais de estimação nas vizinhanças da aldeia são desconhecidos. Mas, nos últimos anos, centenas passaram a ser descartados na região.

"O risco de transmissão de doenças é muito grande. Tem o lixo, as fezes", afirma Natalício Karaí, um dos líderes da comunidade indígena.

Vasculhar a sujeira é apenas um dos transtornos que os cães costumam causar.

Ainda existe a possibilidade de as crianças serem mordidas, ainda mais que os animais vivem com fome. E, por isso, são mais agressivos.

"É difícil conseguir comida, às vezes, até para gente. Quanto mais alimentar toda essa população de cachorros", afirma Karaí.

ROTINA

O carro passa pela estrada que leva ao parque do Jaraguá, larga o bicho no acostamento e desaparece. Nos últimos meses, cerca de 15 cães chegaram assim, sem aviso.

Vivendo das poucas sobras dos índios, remexendo o lixo e sem nenhum tipo de cuidado, um dos problemas que os animais podem causar é a potencial transmissão de vermes, por meio das fezes.

O que queremos, realmente, é que a prefeitura retire todos os animais daqui. "O problema está bastante grave", afirma Karaí, que saiu do interior do Paraná em 2003.

A vida entre os guaranis da região do Jaraguá é quase miserável. "Vim atrás de emprego", diz Karaí, que hoje trabalha como vigilante da escola pública da aldeia.

O local que ele escolheu para viver passa por um processo de favelização. Ali, a sobrevivência da maioria das pessoas vem da venda de artesanato e das doações.

Uma empresa do interior de São Paulo manda cestas básicas todo mês para a aldeia. Os banheiros das casas, o esgoto e o acesso à luz também são precários por ali.

O Centro de Zoonoses da prefeitura diz cumprir seu papel, que é vacinar e castrar os animais abandonados perto da área onde vivem os índios.

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