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Em cidade alagada, famílias fazem 'vaquinha' para comer

Prefeitura de Anamã (AM) coloca desabrigados em barcos improvisados

'A gente mesmo compra a comida, cada um dá um pouco', diz dona de casa que está em barco com mais 17 pessoas

Rodrigo Baleia/Folhapress
Entrada do município de Anamã (AM), completamente inundado pelas águas do rio Solimões
Entrada do município de Anamã (AM), completamente inundado pelas águas do rio Solimões

KÁTIA BRASIL
ENVIADA ESPECIAL A ANAMÃ (AM)

Em Anamã, cidade amazonense submersa pelas águas do rio Solimões, os desabrigados estão alojados em barcos improvisados e têm de fazer "vaquinha" para comer.

Todas as ruas estão alagadas desde a segunda quinzena de abril, atingindo uma população de 10 mil pessoas. Destas, 8.600 deveriam receber ajuda financeira da Defesa Civil, mas isso não ocorreu.

No barco que fica ancorado no porto e serve de abrigo municipal, crianças comiam salsicha com farinha na quinta.

"A gente mesmo compra a comida, cada um dá um pouco. A água para tomar banho vem do rio. Para beber, a gente pega no frigorífico", disse a dona de casa Raimunda Araújo dos Santos, 29, que está no barco há três semanas.

Anamã fica na margem esquerda do Solimões, na confluência com o rio Purus. Partindo de Manaus, anteontem, a reportagem enfrentou cinco horas de lancha e carro para fazer os 165 km até a cidade.

A Folha visitou a zona urbana de canoa. O cemitério está submerso, não há coleta de lixo e escolas estão fechadas, assim como órgãos públicos. As redes elétrica e de água, o comércio e uma agência bancária funcionam parcialmente.

Os 22 carros da cidade -16 da prefeitura- foram levados de balsa para a cidade mais próxima, Manacapuru, a 90 km. Para lá também são enviados pacientes em emergência.

Com o hospital público alagado, a prefeitura alugou uma balsa de dois andares, onde implantou sala de emergência, centro cirúrgico, enfermaria e maternidade. Anteontem, não havia médico lá, só duas técnicas em enfermagem, auxiliares e funcionários.

No barco-abrigo, de 36 m de extensão, estão 18 pessoas, sendo sete crianças. A embarcação, com capacidade para 200 pessoas, tem 12 camarotes (os quartos), oito banheiros, uma mesa e cozinha. Dorme-se em redes e colchonetes.

O agricultor Altenir Araújo das Chagas, 19, está no abrigo com mulher e filho de um ano. Segundo ele, quando a prefeitura precisa do barco, leva todos os abrigados na viagem.

Na semana passada, o barco foi para a cidade de Beruri buscar madeira. "Quando cheguei do trabalho, não achei nem o barco, nem a mulher nem o filho." Beruri fica a dois dias de viagem de Anamã.

O superintendente do Serviço Geológico do Brasil, Marco Oliveira, disse que a enchente na sede de Anamã é extrema porque os terrenos têm topografia muito baixa e plana. "De um lado tem o rio e, do outro, lagos e paranás que enchem quando o rio extravasa."

No Amazonas, 38 dos 62 municípios estão em emergência por causa das cheias. Há 321.200 pessoas afetadas.

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