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Maria de Lourdes Laterça (1910-2012)

Centenária comentadora de notícias

ESTÊVÃO BERTONI
DE SÃO PAULO

Nas lembranças dos netos, a imagem que se forma de Maria de Lourdes Laterça é a de uma avó que sempre andava com o jornal nas mãos em casa, comentando o noticiário.

Não se sabe o porquê, mas um dia ela encrencou com o Boris Ieltsin que via impresso, e dele pegou pavor, mesmo sendo o presidente russo uma figura distante de seu cotidiano. A família nem sabia o que lhe dizer quando ela se punha a implicar com o político.

Também do jornal tirava assuntos que nunca surgiriam naturalmente nas discussões familiares. Ao ler sobre casamento gay, perguntou ao marido, num Natal: "Horácio, o que você acha disso?" Todos ficaram em silêncio. A descontração voltou só após a resposta: "O importante é ser feliz, não é isso o que você fala?"

De formação católica, era em parte conservadora, mas não chegava a ser retrógrada. Tinha opiniões brandas.

Natural de Taubaté (SP), veio pequena para São Paulo. Estudou no Carlos de Campos, no Brás, um dos primeiros colégios técnicos da capital.

Quando jovem, trabalhou como atendente numa ótica, mas se casou, teve cinco filhos e foi cuidar da casa. O marido teve uma construtora e lojas de materiais de construção.

Ótima cozinheira, tinha como especialidade uma galantina -feita com gordura do porco, carnes e gelatina. Aprendia as receitas com uma amiga da família Fasano.

Costumava contar sobre o passado, como o medo sentido dos bombardeios em 1932.

Até os 97 anos, esteve bem. Entristeceu-se após a morte do marido, há quatro anos. Morreu no sábado (12), aos 101, de falência de órgãos. Teve 12 netos e 14 bisnetos.

coluna.obituario@uol.com.br

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