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Ao meu redor, vi pessoas empilhadas e desesperadas

Jornalista da Folha estava num dos trens e relata o clima de tensão após a batida

A falta de informações e o ar abafado fizeram a tensão crescer; após cerca de 15 minutos começamos a sair

DANIEL VASQUES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Embarquei na estação Corinthians-Itaquera, na linha 3-vermelha, e sentei-me num dos últimos vagões. O trem estava cheio, mas não lotado. Coloquei minha mochila no colo e segui viagem enquanto lia o jornal.

Pouco tempo após sair da Penha, a caminho da estação Carrão, uma pancada forte e repentina arremessou ao chão quem estava em pé.

Minha mochila voou, segurei-me em uma barra para não ir junto com ela e quando olhei ao meu redor o que vi foram os passageiros empilhados e desesperados.

Pessoas choravam. Ao meu lado, vi um rapaz com o joelho machucado, uma senhora com um corte no rosto e que não conseguia se mexer com dores na coluna. Outros passageiros a ampararam.

Apesar da confusão que se formou, os passageiros se ajudavam -aliás, foi graças a um celular emprestado que passei o relato em primeira mão à Folha.com.

A janela do trem teimava em continuar fechada, nada de informação, o ar abafado, e assim continuamos por cerca de 15 minutos, esperando que alguma coisa acontecesse e pudéssemos sair dali.

A falta de informação e o calor faziam a tensão crescer. Os alto-falantes emitiram um som incompreensível, impossível saber se era alguma orientação de emergência.

De repente, alguns passageiros começaram a soltar a trava de emergência e pularam a janela para chegar a uma passarela de emergência ao lado do trilho. Alguém justificava: "não é vandalismo, tem gente desesperada e ninguém fala nada, a gente tem que sair daqui".

Logo a passarela se encheu e surgiu um funcionário do Metrô pedindo que todos saíssem pela porta, que acabava de ser aberta. "Quem precisa de atendimento e não consegue andar vai ter atendimento no próprio vagão."

Cheguei à estação Penha, andando, após mais de uma hora. Ali funcionários ofereciam atendimento. Thayane Pereira, 22, tinha uma tala no braço. "Não sei se quebrou, vão decidir se me levam para o hospital, mas está doendo."

Maria Cristina Brandão, 34, cuidadora de idosos, estava num dos últimos vagões: "Estou com muita dor no lado direito do corpo, no braço, no cotovelo e na perna". Mesmo assim, foi a pé até a estação.

Quanto a mim, tive apenas um raspão pequeno na mão esquerda. Acabei me machucando numa mureta ao lado da passarela de emergência.

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