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Depoimento

O vagão escurece, e os passageiros se calam no metrô

THALES DE MENEZES
EDITOR-ASSISTENTE DA ILUSTRADA

Na noite de quarta-feira, dez horas após a colisão dos trens do Metrô, funcionários em uma entrada da estação Luz eram abordados pelos passageiros com perguntas do tipo "Já está normal?" ou "Dá pra pegar o metrô?".

Avisadas sobre a normalização do funcionamento dos trens, as pessoas desceram às plataformas das duas linhas que passam pela estação da Luz.

No vagão de um trem no sentido Jabaquara, os bancos estavam todos ocupados e cerca de 20 passageiros se mantinham em pé. Pouco bate-papo, expressões de cansaço no fim de um dia de trabalho.

Aí o trem parou.

Entre as estações Liberdade e São Joaquim, a iluminação nos vagões foi reduzida, nenhum aviso transmitido pelos alto-falantes do metrô.

Durou um minuto, mas num dia como aquele, com o noticiário do acidente da manhã na cabeça de todos, foi uma eternidade.

Não se ouviu uma palavra no vagão. Todos pareciam cumprir voto de silêncio. Pareciam cumprir um voto de silêncio. Todo mundo paralisado.

A iluminação foi restabelecida, mas nada de o trem andar. O silêncio durou mais um minuto, até que a viagem fosse retomada. Informação? Nenhuma. Nem aquele aviso padrão "Paramos para aguardar a movimentação de composição à frente".

Mal o trem partiu, as pessoas passaram a conversar freneticamente, como se conhecessem há anos o sujeito ao lado. Conversa nervosa, de quem busca alívio. "O metrô era a única coisa segura que a gente tinha, mas não é mais", disse uma senhora.

"Pior que eu só tenho ele como opção para vir trabalhar", respondeu a outra.

Até uma tese surgiu, de um homem que falava alto para quem quisesse ouvir: "Tem muita batida de trem no metrô que só não acontece porque o maquinista salva! O sistema é uma porcaria!"

Desembarcando na estação Paraíso, o papo sobre o acidente continuou na escada rolante.

Definitivamente, qualquer aura de "transporte seguro" que o metrô pudesse ter parece destruída.

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