Chaminés e sindicalismo marcaram bairro

"Ela transformou completamente São Miguel Paulista." A frase, que resume o papel da Companhia Nitro Química para o bairro da zona leste paulistana, é da historiadora Cristina Meneguello, professora da Unicamp e membro fundador do Comitê Brasileiro de Preservação do Patrimônio Industrial.

Para ela, a preservação de parte da fábrica ajuda a contar a história do trabalho sindicalizado no país.

Ela explica que foi entre os funcionários da Nitro, por exemplo, que funcionou uma das mais importantes células do comunismo no Brasil. "Comunistas importantes vieram conhecer." Um eles, cita, foi o escritor Jorge Amado.

A importância arquitetônica da fábrica também é destacada pela historiadora.

"Tem uma arquitetura moderna, não segue o modelo de tijolinho. É o tipo de fábrica que estamos perdendo rapidamente", diz, referindo-se às fábricas que vão ao chão para dar lugar a empreendimentos imobiliários.

Para ela, as chaminés -um dos itens tombados- são um marco para o bairro.

Cristina afirma que o tombamento de uma fábrica moderna "mostra sensibilidade" por parte do Conpresp (órgão de patrimônio municipal). Contudo, ela lamenta o fato de o imóvel não ter sido preservado integralmente.

"No tombamento fragmentado, a lógica da produção se perde", explica. A indústria foi comprada e trazida do Estado norte-americano da Virgínia de navio.

'BAHIA NOVA'

O papel da companhia para a formação de um novo perfil do bairro é outro fator que justifica o tombamento.

A chegada da Nitro Química a São Miguel, por exemplo, está bastante relacionada com a imigração de nordestinos para São Paulo.

O cotidiano dos operários é tratado no livro "Um Nordeste em São Paulo: Trabalhadores Migrantes em São Miguel Paulista (1945-1966)", de Paulo Fontes.

Na obra publicada em 2008, que tem uma abordagem antropológica, o autor se refere ao bairro da zona leste como "Bahia Nova".