Índice geral Cotidiano
Cotidiano
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Fábrica que deu cara a São Miguel é tombada

Nitro Química chegou à zona leste em 1937

VANESSA CORREA
DE SÃO PAULO

A história da Companhia Nitro Química, primeira fábrica de raiom (a seda sintética) da América Latina, se confunde com a dos moradores mais antigos de São Miguel Paulista e com a do desenvolvimento da região.

Com a instalação da empresa, em 1937, o bairro da zona leste de São Paulo passou, em cerca de 20 anos, de pequena vila bucólica com 7.000 moradores para agitado polo de imigração de nordestinos, com população de 80 mil pessoas.

Por seu papel na construção do bairro, algumas instalações da "Nitro" foram tombadas pelo Conpresp (patrimônio histórico municipal) no início do mês. Entre elas chaminés e o antigo refeitório. Com isso, essas estruturas ficam protegidas definitivamente, e alterações no entorno precisam de aprovação.

Mas, em suas memórias mais saudosas, os moradores de São Miguel relembram mesmo é do Clube de Regatas Nitro Química.

"Era muito bom. Tinha bailes da primavera, de Réveillon, de Carnaval. Hoje as coisas mudaram, não existe mais esse bairrismo", lamenta Antônio Onofre Dantas, 71, natural da cidade baiana de Senhor do Bonfim e funcionário da empresa por 36 anos. "De 19 de março de 1959 a outubro de 1995", conta.

Antônio mora até hoje em uma das casas da vila operária construída pela Nitro Química. "Quando me casei, a fábrica me deu a casa. Depois eu comprei", relembra.

Eurico dos Santos, 68, tem memórias ainda mais antigas. "Fui criado no berçário da Nitro até uns seis anos, quando minha mãe trabalhava na fiação." Depois, ele também trabalhou cinco anos na empresa, como mecânico.

Mesmo quem nunca foi funcionário da Nitro Química lembra do clube, já que era possível se associar.

"Tinha a festa da cerveja, mas eu não podia entrar, porque só tinha 16 anos. Então, a gente pulava o muro, mas o seu Danúbio punha a gente pra fora", conta Roger Lapan, 57, que tem um blog sobre o bairro. Boa parte dos textos falam da empresa.

"Era um clube completo, tanto na parte de esporte, quanto na noite. Se comparava ao Clubes Regatas Tietê e ao Espéria", diz Jesuíno Braga, 81, que trabalhou na empresa apenas por um ano.

O clube já não existe há cerca de 20 anos. Mas o grande sonho dos moradores entrevistados é que ele volte. A empresa não se manifestou sobre essa possibilidade.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.