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Sofisticação para alguns é vista como futilidade por outros

Moradores dizem que desconhecem origem de nomes dos prédios e que isso não influi na escolha do imóvel

Para profissional da área de imóveis, os nomes são resultado da 'globalização' e de estratégia de marketing

DE SÃO PAULO

O nome é uma homenagem a um dos maiores músicos de jazz de todos os tempos. "Mas eu prefiro o Miles Davis", afirma o atual síndico do edifício Mansão Charlie Parker, o advogado Alexandre Gaiofato de Souza, 36.

Como, dos 22 moradores do condomínio, não eram muitos os que sabiam quem foi o lendário saxofonista morto em 1955, um antecessor de Souza decidiu colocar um quadro do músico com um breve histórico sobre ele.

Mais fã de blues do que de jazz, Souza diz que não acha nada sofisticado o estrangeirismo em nomes de prédios.

"Acho até um conceito fútil em alguns casos, mas as construtoras querem dar uma roupagem chique. Prefiro homenagens a brasileiros. Tem um condomínio aqui perto que se chama Aquarela. Simples e lindo", diz.

O piloto Fabio Lehrbach, 34, escolheu o edifício Advanced Town (algo como cidade avançada, em tradução livre), no Brooklin (zona sul), para viver com a família. Até procurou num manual do edifício de onde surgiu a ideia do nome. Não achou.

"Não ligo a mínima para o nome. Mas esses termos em inglês são tão comuns hoje que todo mundo se acostumou", afirma.

Na Mooca (zona leste), tradicional reduto de descendentes de italianos, são frequentes os edifícios com alusões, claro, à Itália. O administrador de empresas Luis Fernando Marchioli, 33, buscou no dicionário o significado de Adesso -"agora".

"Mas ninguém escolhe o apartamento por causa disso. Bobagem. Vi que o tamanho era bom e a localização também. É o que importa", diz Marchioli.

Para Basílio Jafet, presidente da Fiabci (Federação Internacional das Profissões Imobiliárias), os nomes são motivados pela globalização.

"O Brasil está muito mais conectado com o mercado mundial. Isso faz com que as estratégias de marketing das empresas incluam a alternativa de usar nomes em inglês, francês e italiano", explica.

Ele diz que, nos Estados Unidos e Europa, há o efeito contrário. "Há edifícios chamados Copacabana, Praia de Itapuã e Bahia lá fora."

Autor de um projeto que pretende abolir os estrangeirismos no país, o ministro Aldo Rebelo (Esporte) chama as estratégias de heranças colonialistas. "É um grupo de cosmopolitas deslumbrados que acham que vivem em Miami. Acham que talvez isso torne os prédios mais atraentes."

Segundo ele, em Brasília, há trabalhadores que se negam a chamar os edifícios pelo nome. "Para não sofrer humilhação. O brasileiro precisa, antes de mais nada, ter o domínio pleno da língua. Sem isso, é deslumbramento."

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