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JAIME SPITZCOVSKY jaimespitz@uol.com.br

Latidos em Hollywood

Estaria o sucesso no cinema impondo agendas humanas para celebridades de quatro patas?

São artistas incapazes de ler roteiro. Mas a limitação não os impede de virar celebridade cinematográfica, estrelar filmes e receber homenagem em Hollywood. Na semana passada, a Academia do Oscar organizou uma noite especial para cães com vida de ator. Adestradores e fãs encheram o teatro.

Cinéfilos e cinófilos se esbaldaram no evento, com cenas disponíveis no site www.oscar.org. A abertura ofereceu videoclipe de aparições caninas em produções memoráveis, seguida de conversa no palco entre profissionais do cinema e adestradores com os pupilos. Participou também Susan Orlean, autora do livro "Rin Tin Tin: The Life and the Legend".

Um descendente do cachorro mais famoso da história do cinema deu as caras, com sua treinadora. O pastor alemão mostrou talento no palco para brilhar como herdeiro do Rin Tin Tin original, estrela de 27 filmes mudos. Outros familiares viraram ainda campeões de audiência em séries de TV.

A história do primeiro da linhagem remonta a 1918. Lee Duncan, norte-americano em ação na Primeira Guerra Mundial, encontrou um canil bombardeado em pleno campo de batalha na França. Trouxe dois filhotes da mesma ninhada para a Califórnia, e começou a treinar o macho, Rin Tin Tin. A estrela foi descoberta numa exposição de cães em 1922, em Los Angeles e, quatro anos depois, colecionava recordes de público nos cinemas.

O pastor alemão sobrevivente da guerra, porém, não desbravou sozinho a sétima arte. O collie Blair é considerado pioneiro, ao estrelar em 1905 o filme "Rescued by Rover", do diretor britânico Cecil Hepworth. Relatos da época dão conta de um sucesso estrondoso.

Com o passar dos anos, democratizou-se o acesso de diversas raças às telas, antes privilégio de pastores alemães e collies, ícones de heroísmo e lealdade. Hoje sobram vagas para vira-latas, cachorros de pequeno porte e até mesmo cães "vilões", longe do ideal da nobreza dos amigáveis descendentes de lobos.

Raças de guarda e defesa acabam, em geral, fazendo o papel de malvados, para infeliz reforço de preconceitos. Cães minis estrelam filmes com pinta de "patricinhas", como em "Perdido para Cachorro". São Bernardos, bonachões e babões, se destacam em comédias românticas e em filmes infantis.

Quem surfa agora no sucesso é o Jack Russel terrier Uggie, de "O Artista", vencedor do Oscar. O cão, segundo a jornalista Susan King, do "Los Angeles Times", ficou mais famoso que Jean Dujardin, o ator principal.

A noitada em Beverly Hills se chamou "Hollywood Dogs: From Rin Tin Tin to Uggie". Enquanto o astro das antigas foi representado por um descendente, a celebridade moderna não apareceu. Trabalhava em Nova York, com o adestrador Omar Von Muller, numa gravação para a TV.

Estaria o sucesso impondo agendas humanas para celebridades de quatro patas? No evento de Hollywood, o tema foi abordado por ativista pró-direitos dos animais, responsável por vigiar a vida de cães famosos. Sem sindicatos, os cachorros precisam de fiscais para esmiuçar suas condições de trabalho.

AMANHÃ EM COTIDIANO
Francisco Daudt

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