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Ilustrada - em cima da hora

Herchcovitch ressuscita com sucesso os anos 1980

No primeiro dia da SPFW, estilista ousa e acerta com referências à década

Com corações como símbolo-chave, xadrez e "smiley", coleção faz homenagem ao cantor britânico Boy George

VIVIAN WHITEMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Na moda é importante voar alto, mas sem tirar os pés do chão. Voar significa, nesse caso, ter coragem para arriscar, para se jogar, quando todos puxam o freio.

Manter o pé no chão significa não tirar o olho dos negócios e garantir que os produtos que vendem muito sustentem os voos criativos.

Essa fórmula, rara de ser alcançada, foi cumprida à perfeição no desfile mostrado ontem por Alexandre Herchcovitch na São Paulo Fashion Week.

A coleção, inspirada no cantor Boy George, ídolo do estilista, reconstruiu os "looks" que fizeram do britânico um dos ícones visuais da década de 80 e início dos 90.

As camisas "oversized", os chapéus, os xadrezes, as jaquetas gigantes, as saias-calça do uniforme escolar -Boy George subverteu uma série de clássicos ingleses, fossem eles das classes burguesas ou dos trabalhadores e jovens do underground, numa espécie de apoteose do exagero.

Herchcovitch limpou e desinflou, mas conseguiu manter impacto dos "looks".

Adicionou japonismo na mistura, outro acerto, já que ele apareceu na moda também nos 80 para modificar, com deslocamentos e supertamanhos, os limites do corpo vestido.

Esperto, o estilista recuperou o "smiley", a carinha sorridente conhecida mundialmente e que se tornaria ícone da cultura clubber. O coração também foi um símbolo-chave do desfile.

No começo, apareceu discretamente, para depois explodir em vermelho, tomando o peito inteiro.

DESFILE X LOJAS

Em entrevista, Herchcovitch deixou claro que sua coleção comercial -ou seja, aquela que é feita partir do desfile, mas tem produtos mais adaptados às vendas em série -não será tão ousada.

As peças terão mais cintura, e tudo ficará mais discreto -para atender as clientes que admiram o trabalho do designer, mas não estão dispostas a assumir riscos fashion. É um modelo consagrado de negócios.

No momento, porém, existe uma tentativa de mostrar na passarela apenas produtos já bem prontos para o paladar do consumidor médio de cada grife. Caso da Animale e de grupos como o AMC Têxtil, dono da Tufi Duek, que também desfilou ontem.

Nada contra. Isso funciona para marcas que, afinal, vendem em grandes quantidades, trabalham com redes de lojas e estão em shoppings espalhados Brasil afora.

Mas, para estilistas capazes de construir, como uma boa banda de rock ou uma diva pop, um repertório estético reconhecível e rico, matar a fase do voo é dar um tiro no pé, derrubando-o do chão.

As moças que curtem ousadia, que saem nas noites de São Paulo e do mundo com vontade de abalar, de usar uma roupa de inspiração, carregada de alguma coisa poderosa -uma espécie de avatar fashion que lhes dê o poder de arrasar na pista ou numa festa-, essas podem comemorar e bater as asinhas.

Herchcovitch está de volta com tudo. Para as que preferem apenas a elegância, basta esperar a coleção comercial. Para o alto e avante.

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