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Quebrada fértil Mais organizada e menos isolada, produção cultural longe do centro de São Paulo ganha visibilidade DE SÃO PAULOPassa das 21h e as mesas estão cheias quando o primeiro poeta assume o microfone no Bar do Zé Batidão. A TV está desligada. "Aqui é a 'La Bombonera' da poesia periférica, mano!", brinca Sergio Vaz, 48, escritor e fundador do Sarau da Cooperifa, citando o estádio do argentino Boca Juniors que naquela noite disputava a Libertadores com o Corinthians. Sem investimentos públicos ou privados, a Cooperifa completa 11 anos em outubro. O pioneirismo se tornou referência e inspirou projetos semelhantes em outros bairros afastados do centro. Nas contas de Vaz, são mais de 60 saraus hoje na capital. A profusão de atrações não se resume à poesia. Há música, teatro, circo e dança. Iniciativas que atraem, cada vez mais, a atenção de quem mora em bairros mais centrais. "A dinâmica cultural não é nova. O que é novo é a visibilidade", explica Frederico Barbosa, pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), que estuda o acesso à cultura no país. Segundo ele, iniciativas como os Pontos de Cultura, lançados em 2004 pelo governo federal, ajudaram a dar fôlego às produções periféricas. "O momento é bom, mas a movimentação cultural sempre existiu", diz Vagner Souza, 27, um dos organizadores do sarau Poesia na Brasa, que ocorre há quatro anos na Vila Brasilândia, zona norte. Segundo ele, o que mudou, foi o contato entre os movimentos. "Antes, a Brasilândia não sabia o que acontecia no Capão." Diante da ausência de espaços culturais, muitos desses recitais ocorrem em bares. A rede de fomento que alimenta a cultura periférica é amparada, principalmente, por microcrédito e agentes culturais engajados. Sergio Vaz, da Cooperifa, chama o momento atual de "primavera periférica", em alusão às movimentações recentes no mundo árabe. (GUILHERME GENESTRETI E RAFAEL GREGORIO, COM COLABORAÇÃO DE REGIANE TEIXEIRA) Texto Anterior | Índice | Comunicar Erros |
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