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Análise

Se existiu algo como "swing brasileiro", músico foi representante mais legítimo

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Chorinhos, sambas e frevos em formação de big band: foi uma criativa síntese entre a sonoridade das orquestras americanas da "era do swing" e os ritmos brasileiros que garantiu ao regente, arranjador e compositor pernambucano Severino Araújo seu lugar de honra na história da música popular brasileira.

Severino foi formado na mesma escola que vem dando tantos músicos de sopro ao Brasil, tanto na MPB quanto nas orquestras sinfônicas: as bandas de interior.

Aluno de seu pai, mestre de banda, encantou-se inicialmente com o clarinete, sob influência de mestres do jazz como Artie Shaw e Benny Goodman.

Depois, fez um caminho natural a muita gente, partindo para o saxofone, instrumento com o qual passou a integrar o grupo ao qual seu nome estaria profundamente associado, a Orquestra Tabajara, ativa até hoje e recordista não apenas no tempo de atividade (64 anos), como na quantidade de discos gravados (cerca de cem) e de bailes animados (em 2003, eram mais de 13 mil).

Seu maior legado, porém, não é como instrumentista, e sim como arranjador, função que já exercia desde a adolescência na banda de Ingá, no interior da Paraíba.

Como diversos nomes da música popular e erudita brasileira, foi discípulo do alemão Hans-Joachim Koellreuter (1915-2005).

Constituída de trompetes, trombones, saxofones e seção rítmica, a Orquestra Tabajara sempre replicou, sem tirar nem pôr, a formação instrumental das orquestras de dança dos EUA, que foram especialmente populares entre as décadas de 1920 e 1950 e ficaram conhecidas como big bands.

O diferencial, contudo, residia no repertório. Severino Araújo não ficava na zona de conforto dos arranjos edulcorados de canções românticas norte-americanas.

Com arranjos agressivos e vibrantes, fazia tocar choros e frevos, com "nacionalizações" esporádicas de grandes obras do repertório internacional, como um célebre arranjo da "Rhapsody in Blue", de Gershwin, em ritmo de samba.

Se existiu algo como um "swing brasileiro", Severino Araújo foi seu mais legítimo representante.

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