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Depoimento

No meu tempo, só queríamos uma cozinha sem baratas

JOSIMAR MELO
CRÍTICO DA FOLHA

Quando eu era criança, estrogonofe era uma coisa cerimonial: precisava ser um casamento muito importante para ter essa iguaria. Ela utilizava ingredientes muito "finos" e "raros": creme de leite em lata, cogumelos em conserva, ketchup industrial... Tudo considerado o máximo!

Os tempos mudaram e aprendemos que, frescos, creme de leite e cogumelos de Paris são melhores para o paladar e a saúde e, no lugar de ketchup americano, poderíamos fazer como os franceses que herdaram esse prato dos russos: usar tomate!

Mas os restaurantes e bufês chiques, prisioneiros dos modismos, trocaram o estrogonofe pelo próximo prato da moda. E a nobre receita virou, na sua versão pobre de enlatados, um hit apenas dos restaurantes de quilo.

Ou do bandejão da USP. No meu tempo, final da década de 1970, quando invadimos o restaurante universitário, exigíamos coisas mais simples que receita original dos czares -queríamos apenas feijão com gosto, cozinha sem baratas e arroz sem o salitre que nos tornaria impotentes.

Hoje, o que será que meus colegas acham da iguaria da quinta-feira, o estrogonofe? Será ele feito de enlatados ou à moda dos czares? Não provei para saber. No meu tempo, não tinha -pois era uma iguaria para poucos. Hoje, será que é feito como uma ração para tropa ou terá tido sua dignidade restaurada?

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