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Depoimento

Lenda do Maverick preto aterrorizava a zona sul

MÁRCIO DINIZ
EDITOR-ADJUNTO DE “COTIDIANO”

"O Maverick do Cabo Bruno acabou de passar na Sabará [avenida Nossa Senhora do Sabará, na zona sul de São Paulo]." Esta era a senha para que eu, com 12 anos à época, e meus amigos saíssemos correndo do fliperama direto para casa.

Na maioria das vezes, era apenas uma desculpa que o Luis, dono do fliperama, dava para que todos os moleques fossem embora. Uma por conta de nossas mães enfurecidas que iam nos buscar quando demorávamos a chegar após as aulas, e outra por causa do Juizado de Menores, que era bastante atuante.

O nome Cabo Bruno causava temor nos jovens da região. O medo era tamanho que qualquer Maverick, Opala ou Chevette pretos (carros que afirmavam serem usados pelo ex-PM em suas incursões pela zona sul) que avistássemos na rua já eram motivo para as pernas tremerem -mesmo sabendo que a Vila Arriete, onde moro, não era um lugar onde ele costumava procurar suas vítimas.

Todo caso de assassinato que ocorria na região era atribuído ao Cabo Bruno. Isso só fazia aumentar o medo.

Certa vez, fui à padaria e vi um Maverick preto estacionado na porta. Entrei sem olhar para os lados. Ao entregar o pão e o leite, o balconista deve ter percebido a minha cara de assustado e disse que o Cabo Bruno estava do outro lado bebendo cerveja.

Olhei para o canto e vi um cara alto de cabelos claros com corte tipo militar (características que diziam que ele tinha na época). Dei o dinheiro para a moça do caixa e saí correndo. Não peguei nem o troco. Além do susto, ainda levei um puxão de orelha da minha mãe. Até hoje não sei se realmente era ele.

CINEMATOGRÁFICO

Quase três décadas depois, vejo que o homem que era o terror da molecada na zona sul passou por momentos que renderiam um filme. Fugiu três vezes do presídio e acabou sendo preso novamente em Paragominas (PA), a quase 2.700 quilômetros de distância de São Paulo.

Depois de ter sido recapturado, ainda perdeu um filho de oito anos enquanto estava na cadeia. Segundo contam, virou pintor e pediu que sua mulher vendesse seus quadros para ajudar nas finanças da casa e na compra de medicamentos para uma filha.

Ainda na prisão, afirma ter virado pastor e queria evangelizar outros detentos, entre eles um jovem acusado de matar seus próprios familiares. Há quem diga que é outra pessoa.

Na minha memória, entretanto, a lembrança dele ainda me causa arrepios.

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