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Diversão de paulistano custa até 4 horas na fila

Opções não atendem à crescente demanda

Maior poder aquisitivo abre apetite por lazer e entretenimento; pago ou gratuito

Cardápio ainda se restringe a 'pontos badalados', principalmente nos Jardins e na zona oeste

Zé Carlos Barreta - 12.ago.2012 /Folhapress
Fila para ver os impressionistas no CCBB
Fila para ver os impressionistas no CCBB

MILLOS KAISER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Paulistanos adoram uma fila, dizem os cariocas, com um certo sarcasmo. Difícil alguém gostar de fila. Mas fato é que os moradores da maior metrópole do país viraram especialistas em enfrentá-las.

Elas são tantas e estão por todas as partes. Hoje, por exemplo, quem for até o restaurante Mocotó, na Vila Medeiros (zona norte), pode esperar até duas horas para saborear um baião de dois.

Sucesso da categoria "preço honesto", o restaurante Le Jazz Brasserie, em Pinheiros, é outro "mestre" em filas.

Sua primeira filial, aberta recentemente nos Jardins, já amarga no jantar o mesmo tempo de espera do Mocotó -isso em dias de semana.

Caso a ideia seja encarar a concorridíssima exposição "Impressionismo: Paris e a Modernidade", no CCBB, é bom levar um livro.

Na abertura da mostra, que traz obras do Museu D'Orsay, a espera chegou a superar quatro horas. Detalhe: o episódio foi de madrugada, na virada de um sábado, dia 4, para domingo.

"Fiquei na dúvida se encarava aquela fila impressionante. No final, até que dei sorte, pois fiquei 'só' uma hora e 15 minutos esperando", brinca Juliano de Souza, programador cultural.

"O entorno estava muito escuro, perigoso. Na próxima, seria bom se pensassem em atividades para povoar a área", sugere.

Para amenizar o transtorno, a organização estendeu os horários de funcionamento. E marcou mais duas "viradas impressionistas": entre 7 e 8 de setembro e 5 e 6 de outubro. Mas é bom avisar: novas filas não estão descartadas da programação.

Se você prefere Caravaggio e planeja ver as obras do artista no Masp, também terá que precaver-se. Na última terça-feira, dia em que a entrada é gratuita, a fila começava na escada e se esticava para além do vão do prédio.

DINHEIRO NA MÃO

Estudiosos tentam entender o motivo de São Paulo carregar a pecha de "capital nacional das longas filas".

"A criação de pontos de cultura não acompanha o crescimento demográfico da população", acredita Samy Dana, professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas), especialista em economia da cultura. "E os que existem estão saturados."

Dana defende ainda que os pontos culturais são "mal distribuídos". Concentram-se nos Jardins e na zona oeste. "Na periferia, não tem nada."

O economista diz que a expansão da chamada classe média também ajuda a engrossar as filas. "Com maior poder aquisitivo, essas pessoas conseguem investir em atividades que dão prazer, como arte e cultura."

Especialista em economia criativa e também professora da FGV, Ana Carla Fonseca acha que não é só uma questão de dinheiro no bolso. "Eles querem compactuar com o padrão de consumo da classe que passaram a integrar. Querem ver e ser vistos."

Nos cinemas, a situação é a mesma. Quem tentou ver "Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge" ou "A Era do Gelo 4" na última semana certamente encarou filas.

Fila para a pipoca. Fila para entrar na sala. Se comprou pela internet, ainda teve mais uma: para retirar o ingresso.

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