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Em crise, ordem católica vende imóveis

No Rio, Venerável Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, iniciada na cidade em 1619, acumula dívidas

Escola, 19 casas comerciais e dez sobrados geminados dos séculos 16 e 17 serão negociados

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DO RIO

No muro da escola Padre Francisco da Motta, fundada na zona portuária do Rio em 1897 pela Venerável Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, há uma pichação: "Fé em Deus que Ele é justo".

A confiança na justiça divina foi o que restou aos mais de 1.500 alunos depois que eles foram avisados que este pode ser o último ano letivo.

Acumulando dívidas bancárias, tributárias, fiscais e previdenciárias, a VOT (Venerável Ordem Terceira) está começando a vender parte dos numerosos imóveis que acumulou no Rio ao longo de sua história, iniciada em 1619.

A escola está sendo oferecida à Prefeitura do Rio e os pais de alunos e docentes já iniciaram um abaixo-assinado, temendo que a instituição seja desalojada.

Próximo à ela, aos pés do morro da Conceição -no qual está uma capela da Ordem de 1696-, a VOT pôs à venda uma dezena de sobrados geminados dos séculos 16 e 17.

Os imóveis, degradados, estão ocupados por moradores e são alvo de disputa judicial -o Incra reconheceu a área como remanescente de quilombo, no fim do ano passado, e estabeleceu limites para emitir títulos de posse.

A Ordem também está vendendo 19 casas comerciais na rua da Carioca (centro), que abrigam lojas como A Guitarra de Prata (de 1887) e o Bar Luiz (no local desde 1927) e estão sendo ofertadas em conjunto por R$ 54 milhões.

A venda em bloco é motivo de protesto dos comerciantes, que alegam não ter como adquirir individualmente os imóveis que ocupam.

A Folha procurou a VOT repetidas vezes, mas a entidade não respondeu.

A Arquidiocese do Rio, à qual a VOT é ligada, disse que a Ordem é autônoma na administração de seus imóveis.

NOVO COMANDO

Segundo funcionários e ex-locatários da Ordem, as medidas de desafogo financeiro começaram após uma mudança no comando da entidade, em meados de 2011.

O frei alemão Eckart Höfling, superintendente-geral da VOT por mais de 20 anos, foi substituído no cargo pelo frei Francisco Belotti, fundador da Associação e Fraternidade Lar São Francisco de Assis, organização social sediada em Jaci (SP).

Depois da entrada de Belotti, a Ordem fechou, em abril, convênio com o governo do Rio para receber investimentos e ampliar o atendimento em sua principal obra e fonte de renda, o hospital São Francisco da Penitência, na Tijuca. Construído em 1933, vinha sofrendo com calotes por parte dos convênios e seguros de saúde, segundo a entidade, o que a levou à inadimplência, incluindo o não pagamento do FGTS de funcionários (mais de 1.500).

A parceria com o Estado -que abriu 200 leitos pelo SUS- teve o aval da Arquidiocese do Rio, que a considerou "o segundo milagre de São Francisco".

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