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62% dos artistas de rua de São Paulo têm outra ocupação

Pesquisa inédita, feita a pedido da SPTuris, traça o perfil dos que se apresentam pelas vias da cidade

Banco de dados da pesquisa serviu para criar site que divulga artistas e mostra mapa das apresentações

EVANDRO SPINELLI
DE SÃO PAULO
FERNANDA KALENA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Quem já andou durante a noite pelas calçadas do Conjunto Nacional, na avenida Paulista, região central de São Paulo, provavelmente já ouviu o som do saxofone ou da flauta transversal de Emerson Pinzidin, que há 23 anos se apresenta no local.

O músico estudou em conservatório, mas nunca tocou em uma orquestra, e não tem outra ocupação: a rua é seu único ganha-pão.

Pinzidin é uma exceção: 62% dos artistas que se apresentam nas ruas têm outra ocupação e só 10% fazem isso há mais de 20 anos.

Os dados constam de uma pesquisa inédita, encomendada pela SPTuris -empresa de turismo da prefeitura. O resultado serviu para a montagem de um site para divulgar o trabalho desses artistas.

No www.artistasnarua.com.br está a agenda das apresentações e um mapa de onde eles podem ser encontrados. O próprio artista pode se cadastrar, agendar suas apresentações e colocar seus dados de contato.

"O mapa inicial é resultado da pesquisa da SPTuris. O próprio artista vai alimentar os dados daqui para a frente", disse Celso Reeks, do grupo Nau de Ícaros, um dos líderes da categoria.

A pesquisa traz muitos dados sobre a arte de rua: 54% se apresentam uma vez por semana, 14% fazem shows diários, 68% atuam aos sábados, 61% são músicos, 16% são estátuas vivas, 82% são homens e 39% têm menos de 30 anos.

"Mesmo no meio artístico, tem gente que acha que a arte de rua é arte de segunda, de vagabundo", diz Reeks.

A pesquisa ajuda a quebrar esse estigma. E o site, por outro lado, vai ajudar o artista a se comercializar.

PÓ DOURADO

Pinzidin, um dos mais conhecidos artistas de rua de São Paulo, apenas vez ou outra recebe convites para tocar em casamentos e outros eventos, o que lhe ajuda a complementar o orçamento.

"Moro de aluguel, mas vivo e como bem", diz. Ele não quis informar o quanto ganha. "Se eu falar, muita gente vai achar que é fácil fazer dinheiro na rua, a maioria dos artistas não ganha o quanto eu ganho. Gente nova se impressiona fácil."

Uma realidade diferente vive José Aparecido Silva Vieira, que faz performance de estátua viva perto do Teatro Municipal, no centro. "Em um dia bom, bem movimentado, chego a ganhar R$ 40, mas não é sempre", diz.

Seu personagem mais popular é o Chaves Dourado, mas ele paga um preço alto.

"A maquiagem dourada faz muito mal para a pele. É um pó que entra nos poros e coça muito. Às vezes, vou urinar e o xixi sai da cor do pó."

Ator de formação, Guilherme Folco fez suas primeiras atuações nas ruas da cidade em meados de 2002.

Caracterizado de palhaço, ele entrava em restaurantes, sem permissão, e fazia apresentações rápidas, normalmente criticando políticos, antes de passar o chapéu.

"A rua é um cartão de visita, aumenta a visibilidade", diz Guilherme, que já chegou a ganhar R$ 700 em três horas de apresentações com uma amiga em restaurantes em um Dia das Mães. Hoje, seu maior rendimento vem com publicidade e eventos.

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