José Rodrigues de Souza (1926-2012)

O 'Bispo dos Excluídos' de Juazeiro

Quando José Rodrigues de Souza chegou a Juazeiro (BA) em 1974, nomeado bispo da cidade pelo papa, a usina hidrelétrica de Sobradinho estava sendo erguida na região.

Na época, quatro municípios às margens do São Francisco precisaram ser realocados, e 72 mil pessoas se viram afetadas pela obra, como lembra o filósofo e teólogo Roberto Malvezzi, com quem o bispo trabalhou por 30 anos.

Ao ser confrontado pela pobreza daquelas cidades, dom José Rodrigues, antes extremamente conservador, de acordo com o amigo, acabaria se aproximando da Teologia da Libertação. A briga política que travou para conseguir melhorias (como adutoras, cisternas, estradas e energia) o tornaria popular.

Conhecido como o "Bispo dos Excluídos", teve problemas, na ditadura, com as antigas lideranças políticas. Sua casa foi invadida, e um dia a cidade amanheceu com a frase "Morte ao bispo comunista" pichada nos muros.

O amigo lembra que o religioso abrigava qualquer pessoa que quisesse ajudar no trabalho com os pobres, mesmo que ateu e comunista.

Nos anos 80, ao intermediar, a pedido das autoridades, o resgate de um gerente de banco sequestrado com a família, foi feito refém e passou três dias no cativeiro. Após o susto, visitou na cadeia os criminosos, que lhe pediram perdão. Até celebrou depois o casamento de um deles.

Em 2003, afastou-se e foi morar em Trindade (GO). Passara por uma cirurgia para a retirada de água da cavidade craniana. Morreu no domingo, aos 86, de complicações de uma pneumonia. Foi enterrado ontem, em Juazeiro.