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Maria Vanete Almeida (1943-2012)

Lutou pelas mulheres do campo

ESTÊVÃO BERTONI
DE SÃO PAULO

Numa reunião que Vanete Almeida organizava, uma das participantes, na casa dos 60 anos, começou a chorar sem parar. Reservadamente, Vanete perguntou-lhe o motivo.

"Você está falando tanta coisa bonita, mas eu não vou conseguir mudar mais minha vida. Já tenho filhos e netos", disse a mulher, explicando que sempre viveu com um marido machista e dono da razão.

Vanete discordou: "Você pode sim. Pode contar suas experiências às suas netas. Quer contribuição maior?".

Nascida na pernambucana Custódia, Vanete mudou-se para Serra Talhada após perder o pai, aos sete anos.

Estudou até a sexta série e, devido às dificuldades financeiras da família, começou a trabalhar cedo. Atuou junto à igreja católica, foi secretária em escola e bordou por encomenda para ajudar na renda.

Ao mesmo tempo, fez ações sociais em abrigos de velhos e passou a se engajar nas causas do trabalhadores rurais.

Mas, nas reuniões, não via mulheres. Foi, então, às cozinhas atrás das "mulheres silenciadas por pais, maridos e irmãos". Queria que recuperassem a autoestima e participassem das decisões.

Nos anos 80, criou o Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais do Sertão Central, que se expandiu até virar a Rede de Mulheres Rurais da América Latina e Caribe.

Nos últimos anos, adotando um discurso ecológico, lutou pela preservação de um rio. Ganhou os prêmios Trip Transformadores e Claudia.

É descrita como "suave".

Teve um câncer e deixou pronto um livro sobre a doença, que a matou no domingo (9), aos 69 anos. Deixa dois filhos adotivos e um neto.

coluna.obituario@uol.com.br

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