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Marcos Augusto Gonçalves

Refúgio

Jardim Botânico paulista não tem a localização gentil ou a nobre história do carioca, mas é um belo lugar

"Vamos ao Jardim Botânico?" disparei via SMS para minha amiga audaz, enquanto esperava, na ensolarada manhã de sábado, a moka dar sinais de que o café ficaria pronto. "Que ideia! Como você vai até lá?", respondeu ela. Achei melhor ligar para explicar: "Se for de carro, vou me perder na certa. Por isso, acho melhor pegar o metrô na Vila Madalena, trocar no Paraíso e seguir até o fim da linha azul, no Jabaquara. De lá, tomo um táxi e pronto".

Pareceu-lhe um roteiro pelo menos sensato, mas, infelizmente, ela tinha compromisso e não poderia me fazer companhia. Ok, lá fui eu, então, rumo ao centro-sul, seis estações no ar-condicionado da linha verde, mais sete na sauninha sobre trilhos da veterana azul. É chocante, aliás, o contraste entre os trens de linhas novas, em especial os da amarela, e as velhas composições que ainda funcionam na azul e na vermelha.

Nesse "dégradé" socioeconômico, que as próprias condições do metrô denunciam, em 40 minutos cheguei ao terminal do Jabaquara. Sem complicações, peguei um táxi (alguns oferecem corridas especiais dali ao litoral) e, R$ 16 depois, estava no portão. Foi um alívio, porque já começava a achar que teria sido melhor pegar um avião para o Rio.;-)

O Jardim Botânico paulista não tem a localização gentil de seu equivalente carioca, tampouco a história nobre e a fama internacional. É, no entanto, um lugar bacanérrimo para conhecer.

Está localizado, como se sabe, no parque estadual Fontes do Ipiranga, o popular parque do Estado -pedação de mata atlântica remanescente, onde também funcionam o Instituto de Botânica e o Zoológico, mais famoso e visitado.

A região, no século 19, era ocupada por chácaras e sitiantes até que começou a ser desapropriada pelo governo estadual, em 1893, com o propósito de proteger os mananciais ali existentes. A ideia era aproveitá-los para o suprimento da zona sul.

Na década de 1920, o Estado convidou o naturalista Frederico Carlos Hoehne para criar um Jardim Botânico na área. Hoehne (1882-1959), nascido em Juiz de Fora, filho de alemães, era, desde garoto, um apaixonado por orquídeas.

Autodidata, tornou-se autoridade no assunto e deixou volumosa obra sobre a flora brasileira. Depois de um período no Rio, em 1917 transferiu-se para São Paulo, onde veio trabalhar na área de botânica do Instituto Butantan.

Muitas águas rolaram desde o tempo de Hoehne -até que, há quatro anos, o Jardim Botânico passou por uma reforma. Foram construídos deques de madeira e uma passarela, que atravessa a mata e deixa ver de perto a vegetação luxuriante, além de animais silvestres, como macacos e -mais comuns em São Paulo- tucanos.

O lugar é bonito, bem cuidado e, pelo menos nas horas que passei por lá, frequentado por gente calma, que paga R$ 5 para se refugiar numa bolha de verde, paz e tranquilidade. Gringos caminham com câmeras ao pescoço, casais passeiam e famílias fazem piqueniques civilizados.

Há trilhas e lagos, visões encantadoras e uma bela estufa de ferro e vidro dos anos 20, onde funciona um orquidário.

Não falta, também, uma curiosa confluência de natureza e história, pois aquelas águas nascentes escorrem para engrossar o riacho do Ipiranga, em cujas margens plácidas dom Pedro 1º, retornando de Santos, lançou o brado retumbante.

marcos.augusto@grupofolha.com.br

Veja fotos do Jardim Botânico
folha.com/fg10162

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