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Marcos Augusto Gonçalves

Bonde do Itaquerão

Multiplicam-se por ali as igrejas, construídas nas brechas da lei, e lançamentos imobiliários

"Ita", todos sabemos, significa pedra em tupi. Itaquera, costuma-se repetir, é "pedra dura". Há, contudo, a versão de que "ita aquer", expressão supostamente dita por um índio guaianás ao padre Anchieta, queria dizer "pedra adormecida". Dura ou adormecida, pedra sobrava por ali, onde funcionou a Pedreira União, por anos fornecedora de material para obras em São Paulo.

Foi para lá que partimos, de manhã cedo, na quarta-feira passada, um grupo de jornalistas da Folha. Faríamos uma incursão à zona leste, região mais populosa da capital, com 3,9 milhões de habitantes -ou 35% das almas de São Paulo.

É o "bonde do Itaquerão", pensei ao entrar na van para o passeio, que culminaria numa visita ao estádio do Corinthians. Além do diretor, do editor-executivo e dos secretários de Redação, a van levava um repórter e um arquiteto, conhecedores da cidade.

O bonde partiu às 9h30 e a paisagem do centro-leste foi-se descortinando, árida em muitos aspectos, mas em transformação. Espécie de "vetor evangélico" da cidade, multiplicam-se por ali as igrejas, construídas nas brechas da lei, e lançamentos imobiliários. Não faltam condomínios tipo "all inclusive" para a nova classe média ou a "nova classe trabalhadora", como diria minha amiga audaz, "d'aprés" Marilena Chauí. Nem seu cachorrinho precisará passear na rua, anuncia um deles.

A obra do Itaquerão vai em ritmo acelerado. Um guindaste gigantesco já se prepara para a difícil tarefa de colocar a cobertura da arena, cuja construção está orçada em R$ 830 milhões. Cerca de metade desse dinheiro é financiamento do BNDES, que o Corinthians pretende pagar com o chamado "naming rigths", ou seja, com a venda do nome do estádio para alguma marca.

Fora as cadeiras extras, removíveis, que serão montadas para a Copa, são 48 mil assentos, 502 banheiros e estacionamento com 2.500 vagas, sendo 929 cobertas. A melhor opção, porém, deve ser ir de trem ou metrô -a estação que conecta os dois já está ao lado. Foi sobre trilhos que voltamos aos Campos Elíseos, onde fica a Folha. CPTM até o Brás e metrô até Santa Cecília.

Dois dias depois, estávamos outra vez a caminho da ZL, desta vez rumo ao extremo, no Itaim Paulista -que o candidato Fernando Haddad, do PT, confundiu com o Bibi. Normal. Aliás, nessa franja pobre e maltratada da cidade, com seus favelões, calçadas detonadas e ausência de verde, não se vê sinal de campanha que não seja petista.

Imagino que nos tenham confundido com ETs em missão de paz, quando descemos da van-espaçonave no ponto final da linha 213 C, Itaim Paulista-Vila Califórnia. Ficamos no boteco, à espera do busão, e apareceu um líder local. Queria saber de onde éramos e se pretendíamos comprar a linha de ônibus. Aproveitou para alertar que a van não podia estacionar atrás do ponto.

Nos guiava o entusiasta de São Paulo José Luís Portella, ex-secretário de Transportes Metropolitanos do Estado, blogueiro e colunista. A ideia era conhecer um exemplo da irracionalidade do transporte público e andar na mais longa linha de ônibus.

O ônibus estacionou. Entre ruas apertadas e moradias precárias seguimos até a estação Jardim Helena-Vila Mara. E de lá chegamos sobre trilhos ao centro da cidade.

marcos.augusto@grupofolha.com.br

AMANHÃ EM COTIDIANO

Jairo Marques

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