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Era tudo mentira

Jovem de Guarulhos encontrada no Rio inventou ter sido levada por traficantes, sofrido violência sexual e obrigada a embalar drogas, diz a polícia

DIANA BRITO
DO RIO

A história foi contada assim: duas jovens foram sequestradas em Guarulhos, na Grande São Paulo, por traficantes do Rio e passaram 40 dias em cativeiro, sendo submetidas a violências sexuais e obrigadas a ajudar os criminosos a embalar drogas.

A investigação policial descobriu: o "sequestro" foi inventado pela jovem de 16 anos que, na madrugada de quinta da semana passada, chegou ferida à delegacia de Itaguaí, na região metropolitana do Rio, contando ter escapado de traficantes que a mantinham em cativeiro.

"Não houve nenhum sequestro. No período em que disse que estava sob cárcere, ela frequentava uma lan house em Itaguaí", disse à Folha o delegado-adjunto da 50ª DP, Adriano Leal Baptista.

A adolescente, cuja identidade não foi divulgada, havia contado na delegacia que ela e outra jovem, que não conhecia, haviam sido sequestradas na cidade paulista em 26 de agosto e levadas para Itaguaí.

Segundo a polícia, ela apenas havia fugido de casa e ido para a cidade fluminense.

Em um baile funk, conheceu Michael Gouveia Ramos da Silva, o China, suspeito de envolvimento com o tráfico da região. Os dois começaram, então, um relacionamento.

Ainda de acordo com as investigações, ela o traiu e, por isso, levou uma surra -o motivo de ter chegado com ferimentos à delegacia.

PORTA-MALAS E FUGA

No depoimento prestado na delegacia, a jovem relatou com detalhes o "sequestro": ela e a outra garota foram colocadas no porta-malas de um carro e levadas para a favela da Mangueirinha, em Itaguaí. Lá, foi amordaçada, algemada e sofreu abuso sexual.

A jovem relatou que conseguiu fugir, após 40 dias de cativeiro, ao ser levada de carro para acompanhar a entrega de armas a outros criminosos. Em sua versão, quando o veículo parou, ela escapou.

Tudo mentira, descobriu agora a polícia.

Depois que ela se apresentou na delegacia, a polícia fez uma grande operação na favela da Mangueirinha em busca da outra jovem sequestrada -que não existia, descobriram os policiais.

Dois homens foram presos e reconhecidos pela garota como seus sequestradores. Entre eles estava China.

Em depoimento, ele confirmou que havia conhecido a adolescente em um baile funk e que eles mantiveram um relacionamento. Negou, porém, que tivesse mantido a jovem em cativeiro ou a espancado.

HÓSPEDE

Segundo a polícia, duas colegas da jovem disseram, em depoimento, que ela passou o período do "sequestro" hospedada na casa delas.

A mãe da garota foi ouvida na delegacia de Guarulhos. "Ela contou que a filha tem transtornos psicológicos, fazia tratamento e já tinha sumido outras vezes. É uma menina rebelde", disse o delegado Baptista.

De acordo com o policial, foi instaurado um procedimento contra a jovem pelo delito de denunciação caluniosa. O caso já foi encaminhado para a Vara da Infância e da Juventude da região. A menina poderá ter que cumprir uma medida socioeducativa.

"Ela afirmou que estava sob o julgo de um traficante, sendo explorada sexualmente, escravizada, obrigada a preparar drogas para venda, ingerindo restos de comida. Fiquei impressionado com a veracidade que ela contou a história. Ninguém desconfiou", disse o delegado.

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