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30% das queixas de barulho não existem, dizem síndicos

Ruídos imaginários mais comuns são arrastar de móveis ou saltos de sapatos

Psiquiatra atribui problema a estresse, angústia e depressão; 'reclamão' também pode ser multado

CRISTINA MORENO DE CASTRO
DE SÃO PAULO

"Escuta! Escuta! Está ouvindo?", insistia a moradora de um condomínio de Moema, zona sul paulistana. Mas só havia o silêncio absoluto.

Das 2h às 4h da madrugada, o síndico profissional Aldo Busuletti, 49, se viu sentado no sofá do apartamento da moradora, à espera dos barulhos que o vizinho de cima sempre provocava, segundo ela. Não ouviu nada.

Antes disso, Aldo já havia advertido e multado o morador de cima (R$ 380), atendendo às reclamações incessantes da vizinha. Como não funcionou, decidiu testemunhar os ruídos e se deslocou de Santana, a 14 km de distância, até aquele sofá.

"Tive que pedir desculpas ao morador de cima, retirar sua multa e converter em advertência para a moradora que sempre reclamava."

Assim como ele, outros síndicos e administradoras responsáveis por 1.500 dos cerca de 20 mil condomínios na capital paulista ouvidos pela Folha estimam que até um terço das reclamações de barulho -as campeãs em todos os condomínios- sejam fruto da imaginação.

"Acho que a pessoa trabalha o dia inteiro na rua, ouve tanta buzina e agito, que à noite sonha com barulho", analisa Aldo, que gerencia 37 condomínios da cidade e atua como síndico profissional há 20 anos. "É estresse."

O psiquiatra Elko Perissinotti, do Hospital das Clínicas da USP, atribui os "ruídos fantasmagóricos" ao "estresse, angústia, depressão e frustrações" das pessoas.

HIDROMASSAGEM

Os barulhos "imaginários" mais comumente ouvidos são o arrastar de móveis ou saltos de sapato batendo no chão, madrugada adentro.

Mas a reportagem ouviu casos que vão de banheira de hidromassagem à TV em volume muito alto.

Há vizinhos que chegam a chamar a polícia ou até brigam fisicamente.

Para tentar contornar o problema, os síndicos apelam para várias táticas. Alguns chegam a inspecionar os apartamentos, em busca da fonte dos barulhos.

Segundo Márcia Romão, gerente de relacionamento da Lello Condomínios, não é incomum que o "reclamão" acabe, ele próprio, multado por perturbação do sossego.

José Roberto Iampolsky, diretor-geral da Paris Condomínios, diz que, quando o síndico não sabe como resolver o impasse, ele pode convocar uma assembleia extraordinária para que os condôminos julguem, após ouvir os envolvidos.

"No fim, até os dois vizinhos podem ser multados", explica.

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