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"Acabou com um sonho", diz pai de estudante morto

Mestrando foi assassinado a facadas na zona sul do Rio; colega é suspeito

Agricultor do sertão do Ceará conta que o filho, aluno de instituto de matemática, ajudava no serviço da roça

VENCESLAU BORLINA FILHO
DO RIO

Agricultor da cidade de Deputado Irapuan Pinheiro, no sertão do Ceará, Nestor Pinheiro, 48, chegou ontem de madrugada ao Rio para levar o corpo do filho José Leandro Pinheiro, 22, para o enterro na sua cidade natal.

Aluno do curso de mestrado do Impa (Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada), a vítima foi morta anteontem à facadas e pedradas enquanto dormia na república onde morava, no Jardim Botânico (zona sul).

O principal suspeito, já preso, é o também estudante do Impa Bruno Euzébio dos Santos, 26. Ele foi encontrado desacordado no chão da cozinha por outro morador da república e com as mãos sujas de sangue.

De acordo com a polícia, Santos ainda não prestou depoimento pois aparenta estar em estado de choque. À tarde, ele conversou com a mãe e chorou, segundo policiais. Seus pais chegaram ontem à cidade, vindos da cidade de Malhador, no Sergipe.

SONHO DE PAI

"Era um sonho que todo pai quer ter", disse o pai de José Leandro Pinheiro, na porta do IML (Instituto Médio Legal), ao lembrar do esforço do filho para chegar ao mais importante instituto de pesquisas em matemática da América Latina.

"Foi muito difícil para esse filho estudar, porque a gente é pobre, é agricultor, mas sempre optou pelo estudo. E antes do estudo, ele sabia fazer todo o serviço da roça. Antes de estudar, ele trabalhava na roça", contou.

José Leandro graduou-se em matemática na Universidade Federal do Ceará. Foi lá que ele conheceu o amigo Hudison do Nascimento Lima, 22. "Ele queria ajudar as pessoas e fazer com que mais jovens da sua cidade natal pudessem seguir o seu caminho", contou Lima, que também mora na república.

"A vontade dele era ser professor pesquisador. Também estava pensando em fazer doutorado nos Estados Unidos. A matemática perdeu um grande talento", disse Roberto Ribeiro, outro amigo, também da república.

Para o professor Emanuel Carneiro, orientador da vítima, José Leandro era um aluno "extremamente promissor". "Na avaliação ao entrar no mestrado, ele alcançou a nota máxima, e nas disciplinas só tirava notas A e A+."

O pai afirmou que o filho nunca havia reclamado de possíveis brigas ou discussões com colegas do Impa. "Ele sempre dizia que estava tudo bem, que tudo era muito bom e que as pessoas eram boas", disse Pinheiro.

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